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Olá, espero que gostes, tem duas músicas cantadas pelo anthony. Espero que sintas gozo em experimentar com a pintura. On a more personal note, lamento teu silêncio. Sinto que te afastaste de mim, que falei demais, reciclei uma vez mais o meu passado contigo, como éramos tão inocentes há dez, doze anos atrás, cheios de vida e agora, o que resta? A minha ingenuidade destes últimos meses, eu quis-te beijar no carro quando cá estiveste, quis sentir a tua pele, e depois dizes-me coisas duras como «baixa qualidade», não querer pensar e tal, como argumento de defesa contra mim, insensibilidade, tentativa de anestesia (deves ter sofrido muito, chegado a conclusões terríveis acerca de ti própria, do mundo, dos homens e das amigas. Todos nós chegamos e todos temos de lidar com isso, chama-se a isso adaptação ao meio). Eu não desejo negar a sensibilidade e já passei a fase da anestesia, descobri o ponto de fuga na pintura, as tuas papoilas que pintaste poderiam ser um novo princípio para ti, se o quisesses claro, eu quando estou a pintar não penso em mais nada e depois paro, sento-me, fumo um cigarro e aí penso, analiso, chego a conclusões and I move on with my world. Eu nunca me senti uma vítima mas não quero ser um mártir. Dizes que existe uma corrente que nos liga, que sempre nos voltamos a encontrar ao fim de anos. Concordo. Mas nos últimos nove anos quem procurou fui eu, apenas eu, sempre eu. Tu procuraste antes, isto a avaliar pelos telefonemas e cartas que só mais tarde recebi. Lamento não ter estado perto nessa altura. Sinto que nesses momentos gostaste de mim, ou então tiveste a inveja muito portuguesa da vida lá fora, ou então sentiste que eu estava longe e que nunca mais voltaria porque lá, na terra dos sonhos e dos cogumelos, a realidade seria mais bonita. Não sei mas sinto que naquele verão quando no carril lemos a petra e a karin numa passagem escolhida especificamente para tu me beijares, e tu beijaste-me algo curiosa e eu subi ao céu, após anos em que te desejei, ah como seria bom matar es per ma to zói des nas tuas superfícies esponjosas… dias depois fomos passear para as salinas e beijamo-nos, desta vez a sensação não foi tão boa, faltava emoção à coisa, era literária, referências e tal… um domingo mais tarde apareceste bonita com um vestido de alças vermelho laranja (creio eu), estávamos sentados na cama, beijávamo-nos, e eu quis pôr a mão por baixo do vestido vermelho mas tu recusaste de um modo quase patológico, não ofendida mas quase com uma aversão espontânea ao meu acto. Compreendi neste momento que nunca nos completaríamos fisicamente, ao nível do intelecto talvez mas não no acto instintivo mas lembro-me de os teus olhos brilharem e das tuas palavras dentro do uno: não desapareças agora. E então fui-me embora, não era ainda hora de espernear mas de qualquer modo não tive paciência, o platão é uma seca. Porquê agora? Se me tinhas recusado mas contudo os teus olhos brilhavam, devia ser amor tal como devia ser amor em novembro ao perguntares se eu voltava, como se tivesses medo da possível tragédia mas é preciso reconheceres que coloquei a minha mão na tua que segurava a caixa de velocidades do teu ford e tu recusaste. Uma vez mais. Os teus olhos brilhavam, devia ser amor mas nunca me falaste do teu amor, desse tal amor por mim (oh soberba oh glória de ser amado), sempre falaste do amor que vinha nos teus livros ou em pequenos pormenores com um «amigo». Voltas?, perguntaste, e eu disse claro, que volto, eu não vou a lado nenhum, vou só esperar por segunda-feira e assinar a rescisão e receber a indemnização e irmos passear. Tinhas planos de ir a londres com «ele», eu sempre voltei para ti, eu sempre esperei por ti e ainda espero, sempre espero, tu és a minha deusa, foi assim que construí o meu amor por ti, estás mais no meu campo de ideias apenas ou porque tu nunca me quiseste fisicamente ou porque quando o quiseste, e se quiseste eu não quis reparar, mas tenho a dizer-te que icata é algo já não terrestre, e que eu te quis na terra comigo ao teu lado, espero ainda mas até quando? Espero que me envies o malina por correio, há anos emprestei-te um livro do vernon sullivan, há muito tempo desisti de reaver, enfim… recusas-me com o teu silêncio, com tons mal-humorados dizendo que tens de ir jantar e que telefonas depois, até hoje… espero eu espero ainda tendo de ter infinita paciência, lendo que esperneio e que é necessário uma distância de segurança. Não tens tempo para mim, nunca tens tempo, não tens tempo para escrever a um gajo que se interessa por ti, já não no aspecto anestesiante da coisa sexual, mais como uma memória de amizade de pequenos momentos que na altura em que se vivem são belos e parecem que durarão para sempre, eternos, até que chegamos à recordação e se verifica que os malmequeres murcharam na luz ao fundo do túnel. Tudo porque para sair do túnel ou para escavar uma terceira saída são precisas duas pessoas, duas toupeiras, dois lobos, gatos e gatas, eu e tu em suma. Por isso minha querida marguerite, esta carta é uma tentativa de forçar a abertura do túnel, para chegar à luz, para que haja passarinhos e nenúfares frescos. Tens todo o direito de te aborrecer com estas tentativas, esgotou-se a tua curiosidade por mim, terei sido talvez perverso nos meus actos ou palavras mas tu nunca foste minha ou única nos meus pensamentos, e eu ofendo-te a tal ponto que silêncio mas esse silêncio só será válido quando tu mo disseres ou escreveres, requisito essa objectividade se for o caso, pois por muito masoquista que uma pessoa possa parecer, existe sempre um momento em que se desiste do troféu, ex-genet.
Ouve agora este final, meu filho:
kill me, kill me... I’m listening to the nails.
Gravo a minha voz como radialista. Improviso a pensar nela, na maior gaja, gata, goddess, ga...nza. Nunca haverá ninguém como ela. Improviso em inglês com sotaque zombico. A verdade é que nestes últimos dias ou noites, um sonho talvez me regrava a memória. Desejo que ela não tenha andado no tempo mas… talvez a verdade seja apenas uma vida profissional estabilizada e filhos de um cowboy. Sobretudo desejo que a mensagem que hoje lhe envio pela rede de informação chegue a ela ainda hoje e que amanhã na volta do correio acorde e obtenha uma palavra… dela, da verdadeira, da genuína, da única. Ah ganza! Como te amo, juro-te prometo-te devoção eterna, lembras-te do sempre nunca ou nunca sempre em formato convite que tu rasgas à frente do pastel de bacalhau como eu lhe chamo? Compreendo ou penso que te compreendo. Porque eu naquele momento limite não quis, não te quis, quis seguir o meu caminho, superar a crise sozinho sem ajuda, sobretudo longe de ti, tu anihilavas-me com com o teu toque, com os teus sonhos, com a tua voz, com a tua pele, com a nossa pele colada pelos cinco sentidos dos nossos fluidos encharcando de sémen e corrimento a nossa pele cheirando a esmegma, o teu cheiro, a tua ausência de perfume artificial, e no entanto tinhas dinheiro para comprar perfume de dez milenas e depois há, eu sei que tu sabes, coisas mais valiosas que um cheiro artificial, coisas que eu te dei ou poderia dar mas enfim… a nossa pele. Yr sweet voice, not a flower monika voice, that’s another story all the way completely and absolutely. Yr sweet voice your skin. You were really my woman. Em realidade na realidade dentro e fora da realidade, a merda acontece. Devo estar a ficar velho pois é verdade que o cabelo começa a ficar esparso, os dentes caem quando como bolas de chocolate pelo natal, eh eh acho que como uma cabeça de pai natal e como paga parte-se-me meio dente, quase que o mastiguei e, no entanto, tomo conta da ocorrência na mesa de jantar e disso não faço caso, porque morrer só uma vez and after that nenhum mal nos pode fazer, que se lixe. Hoje, já não tenho medo da melancolia ou do armário ametista da sexualidade, pois como disse esse meu tio soldado que morreu morto ou suicidado ou por acidente, que interessa isso agora ainda?, pay respect to the vultures for they are your future, esse mesmo tio soldado morto suicidado acidentado pederasta drogado maluco... De tudo isto poucas coisas não sou e se divirjo a nível físico da sua opção sexual, seria capaz de dizer à ganza como ele disse ao seu parceiro: paint me as a dead soul. Ah ganza, digo que estou velho porque tu estás sempre lá, no futuro que não se viverá junto mas sim no presente que se já não vive, tu estás sempre lá na imagem tua aos dezassete anos na tua cidade do interior, nessa fotografia que faço o obséquio de deixar queimar por uma distracção com as velas surripiadas ao john quando vou à cozinha comer um pão e fico a saber da morte do sinatra pela TV, um el grecco, um relógio, o único que tenho, um despertador com rádio, a tua imagem. Mas vives em memória eterna. Depois e antes de ti, só projectos, ideias, mistificações, ernestas com metafísica recusando terminantemente aceitar a metafísica dos outros tentando incutir a sua própria metafísica mas enfim… ah claro, o guardador de rebanhos não é? Ri-te querida ri-te querida tu a verdadeira a genuína a única, aos teus calcanhares a mistificação minha da icata que nunca se materializará e ficar-se-á pela auto-masturbação, apenas um projecto, um projecto forte é certo mas que… it’ll never come to fruition. Ri-te querida ri-te tanto como eu agora rio quando escrevo estas linhas, pensar em ti afasta a melancolia, faz-me… lembras-te da triste beleza?… pois é, há-de ser sempre assim. Tu hoje estarás bem com o teu marido com os teus filhos talvez. Estou a ouvir «queremos paz» dos gotan project, tango lembras-te querida?, lembras-te. Eu lembro-me das tuas palavras: «parce que je t’aime», lembro-me de tripares comigo por causa de nos vermos ao espelho que tu escreves com baton e eu te dizer que tu pareces galás e tens razão: foste única e querias ser reconhecida pelo teu próprio ser personalidade, encontro-te mais tarde numa aparente réplica com cabelo violeta numa padaria às sete da manhã de um domingo antes do meu comboio de volta ao ninho «paternal» e tu, essa possível réplica de cabelo violeta, tu comprando pão para ir dar ao teu Senhor, que não eu. Tudo teve, tem e terá uma lógica interna, a percepção como sabes é transformada pela invocação de um determinado sigilo, as coisas acontecem as if as now, o difícil é não ser apanhado pelas malhas da autoridade mental superior, pelo phallus já sem pele, daqueles que tentam arrastar a asa para cima do meu ombro, ah as referências!, prometendo mais do que a gente nem pede, oferecendo ideias, ajuda, promoção, criação de mitos em conjunto e tal, é pena, tenho pena desses pastores de rebanhos, desses espíritos livres científicos ou espirituais que só admitem a sua liberdade e a de mais ninguém e que todos se juntem à sua ideia voluntariamente, e quando a gente corta essa mesma asa fálica eles retiram o tapete que eles próprios colocam para eu tomar banho enquanto ou antes até de escrever que ninguém chama porco a ninguém mas sim que cheira mal. Para esses guardadores de rebanhos tão bem-educados só vale dizer: lixo, e não apenas um, vários que dizem tal do meu cheiro, lixo sou lixo sois, pois então. O meu cheiro tem em memória a pele da ganza, a minha, a que tive, a que tudo deu em troca de mim [ah a ilusão de te salvar incorporando-te na história…], do meu cheiro, do meu corpo, do meu sexo, da minha piça dentro e fora do teu corpo e o teu corpo essa lua dentro do meu sol… e depois é preciso que diga que me estou a cagar para o que os supostos amigos antigos «companheiros de longínqua jornada» disseram dizem ou dirão de mim ou do meu cheiro, se ainda eles fossem mulheres talvez pudesse ter interesse na sua amizade e mudar outra vez. Cada qual tem o seu modo de filtrar o passado. A eles nem byebye valerá a pena dizer nem mesmo fuck off. Já o disse. Mais vale o desprezo e o silêncio, é o que me fazem, dizem até que é sinónimo de boa educação. De qualquer modo, lamento nunca obter resposta das pessoas por quem ainda me interesso, silêncio solicitado para sempre, escrito numa mensagem de corte de relações por g. Silêncio inexplicável por icata. Esta diz o que eu disse a g há quase décadas: a minha vida não tem nada de bom para te oferecer. Mas para arrancar esta frase é preciso dizer-lhe para me mentir, inventar ao telefone uma qualquer história. E depois silêncio. Por isso do passado, do meu passado só duas imagens perdurarão: a maria talvez, estas duas mulheres e a linda svieira, a única que verdadeiramente me seduziu e por mim lutou. Ela era uma linda e saudável mulher com quem fui feliz mas eu já na altura sabia que eu não era saudável. Deixei a amante e fiquei com a mulher, meses depois a solidão. Alivio a minha miséria mentindo agora e dizendo que o futuro se projecta risonho: os meus sobrinhos já dizem tété ao seu tio soldado pintor maluco drogado and straight. Queremos paz. Os mortos como eu poderão agora ir dormir e talvez invocar a sucedânea de g, vale a pena pôr os mutantes: oba oba she’s my sho-sho and she knows I’m her sho-sho mitomania… para todos os outros, a frankenstein doll for joseph and a little baby doll for baby jesus e uma bola de natal com recheio de esperma enviada do meu anexus 51 misantropia. Contra o pai natal e as janeiras nada tenho, pois recordo quando me abriste a porta. Um beijo grande e votos de felicidade para o vosso futuro com os vossos. Minhas queridas, tratem bem os vossos. Eu sei aquilo que convosco vivi e as repetições começarão assim a rarear.
manuelle biezon
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