segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Auto-retrato bruto

Na semana passada um grupo de utentes, onde me incluo,
teve a oportunidade de, numa parceria do CH S.João com o Museu de Serralves,
visitar o museu e receber uma visita-guiada à exposição da Helena Almeida.

A Helena Almeida é uma pintora cujo trabalho é
«desenhar o desenho, pintar a pintura» segundo o nosso guia-intérprete
ou seja, ela trabalha o processo de criação e documenta-o em séries fotográficas.
Numa destas, ela fotografa-se a pintar com pincel uma superfície-tela- que é um espelho
e adiciona-lhe à posteriori uma pincelada de azul
«um azul que na verdade são dois tons de azul misturados»
e que me parece semelhante ao azul Klein.
(Em casa, ao pesquisar na net encontrei um artigo do Guardian
em que se sugere que este tom azul é apenas semelhante ao azul Klein 
e que terá sido usado por Helena Almeida para protestar contra
o papel atribuído à mulher nas obras de Yves Klein.)
Uma obra exposta é um retrato fotográfico a preto onde
a autora se encontra de boca aberta e com ar de espanto ou surpresa.
O interior da boca aberta é «azul», dir-se-ia que canibaliza azul.
Outra ideia encontrada na exposição é a de linha preta e 
a sua relação com o espaço da folha de papel e a sua tridimensionalidade.
Há um trabalho em que um tufo de riscos a preto sai para fora do papel na forma de arame
criando um arbusto.
A exposição contém ainda desenhos e vídeo e telas tridimensionais.

No final da visita-guiada, fomos até uma sala do serviço educativo
para um breve workshop em que nos convidaram a realizar trabalhos
relacionados com o que tínhamos vistos.

Um colega fez uma interpolação de linha em fio de lã com linha desenhada a marcador;
Ûma colega amarrou-se com fio e fotografou-se a dançar;
Outro fotografou-se a interagir com um novelo emaranhado de fio vermelho e um espelho
e depois construi uma forma tridimensional de papel desenhado a vermelho e fio de lã;
eu realizei o trabalho mostrado em baixo:
Comecei por pegar num novelo de lã vermelha  
e colocar o fio na forma de um coração sem cortar o novelo, 
este transformou-se na metáfora da minha mosca-barba 
e o desenho evoluiu para um auto-retrato desenhado em frente a um espelho 
que coloquei verticalmente em frente à folha de desenho.
Para dar um tom de humor coloquei-me uma coroa de fio branco na cabeça 
e adicionei-me um fato e gravata azul.
Interessante o pormenor da fita-cola: parecem cicatrizes.

Penso que este trabalho inspirado no que vi da obra da Helena Almeida
se pode considerar um trabalho de 'arte bruta' ou outsider art.


'Auto-retrato bruto'
marcador, fita-cola e fio de lã sobre papel A3
2015
ZMB

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