quinta-feira, 9 de março de 2017

O génio de Vitor Rua e seus javardos



No Verão de 2008, e por alturas da minha última crise psíquica, nem tudo foi mau.
Explico-me: nem tudo foi depressão e desejo de explodir-me ao mundo e de me vingar.
Também tive momentos de quase obsessiva alegria louca, era raro não ter a mente ocupada
por uma qualquer vontade, a maior parte das quais no dia seguinte esquecia se não a passasse ao papel. A música andava sempre por perto.
Numa noite de sábado, estando sozinho na rua, dei por mim a explorar
a bouça e os atalhos e as ruínas abandonadas perto da linha de caminho de ferro,
o meu desejo era tomar café e fazer um charro ao ar livre e fumá-lo sozinho,
nada de novo nisto que digo, era habitual eu isto fazer,
o que foi diferente foi a banda sonora do evento,
em casa no leitor de cd passava ultimamente a compilaçao da Ama Romanta,
e eu bloqueei nesta música dos PSP: Fadó Samba,
bloqueei no ritmo e principalmente no poema javardamente cantado,
o que foi absurdamente hilariante e digno de registar foi que a hora passada
a encontrar um local seguro no meio do nada para fazer a broca foi acompanhada
da minha própria interpretação vocal da letra da música, repetitivamente encontrando novas rimas
até ao final em apoteose quando encontrei um café-salão onde havia uma festa de verão com dj
onde tomei café e vim depois para casa com uma espécie de quase epifania.

A minha versão da letra é esta:

"
Meia noite nas esquinas e
Um pacote no verão
Estavam as pinhas à pina
Encastradas no varão

tantan tantan tantan
tintin tintin
tão tão tão
barbeia-te com omnisciência
a mosca ajuda-te...
                        intensa mente
livre livro libra libris...
                        lânguida mente
Mentiras mentindo mentiras.
Mentirias a quem? quem? quem?
Quem? Eu? Tu?
Amanhã vou cortar o cabelo.

Um clitóris dois pentelhos
Uma vinhaça um sabão
'bora lá torrar o escaravelho
Encaderná-lo em cartão.
"

Claudio Mur

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