Ontem, o grupo de utentes de psiquiatria do CH S João, onde eu me incluo,
teve a oportunidade de ver a exposição de Philippe Parreno no Museu de Serralves.
Além de ver, pudémos ouvir as explicações do nosso guia-formador sobre a obra exposta.
Esta é uma meta-exposição: transcende a pintura, a escultura e mesmo o discurso, a linguagem.
Ao início da exposição somos confrontados com uns balões de gás suspensos no tecto,
o formador pergunta-nos o que querem dizer aqueles balões,
a uma colega nossa, talvez pela cor roxa dos balões, sugere-lhe baratas de cozinha,
o guia diz que os balões são signos de discurso -- como numa bd onde no balão com cauda vem a frase --,
o tecto coberto de balões significa um discurso, não de uma pessoa, mas um discurso colectivo,
onde o tom da frase enunciada é dado pela cor do balão:
desde o dourado que refulge um discurso na escuridão,
ao prateado que espelha o discurso,
ao transparente, ao laranja energia, que se combina com o amarelo luz e o vermelho vida,
ao azul -- antigamente uma cor cara e difícil de obter,
ao negro, símbolo de escuridão.
A exposição ocupa todo o museu, e em todas as salas se dialoga com a luz e o som,
que é gravado com microfones de contacto acoplados às resistências das lâmpadas e candeeiros,
com estores que sobem e baixam nas janelas como que por magia,
mas toda a luz das salas e o som que se ouve é controlado por um programa de computador.
Eu, se viesse ver esta exposição e não ma eplicassem, certamente que gostaria
e acharia até surreal os balões, pensaria nas brillo boxes de Warhol,
não compreenderia as tomadas de luz no centro das salas a que o autor chama «cobras»
mas acharia repetitivo 200 desenhos a negro com manchas de luz
(não percebendo que o autor os fez numa época de doença e que os pontos brancos nos desenhos
significavam a luz dos pirilampos num mundo de escuridão e portanto um sinal de futuro com esperança),
acharia kitsch ver um ou vários pinheiros de natal de metal pintado e com bolas de enfeite
e não saberia distinguí-los de um verdadeiro plantado junto ao solo
e do lado de fora de uma grande janela que deixa entrar luz natural.
O pinheiro de natal tem como função, o dizer-nos que o natal deve ser todo o ano e não só uma época.
Assim, na maior sala, o tecto é baixo com balões pretos,
entra-se e o tecto sobe, caminha-se até à parede oposta, viramo-nos de frente para a saída
e vemos que o tecto, no meio de tanta escuridão tem zonas brancas,
em frente uma linha de «cobras» indica-nos a porta de saída
e do lado de fora vê-se o pinheiro de natal.
Após a visita, fômos até a sala do serviço educativo
e o formador pediu-nos que trabalhássemos palavras de um discurso
e as arranjássemos espacialmente.
Três exemplos do nosso trabalho:
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