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A lição de O Monte dos Vendavais, a mesma da tragédia grega -- e a mais distante de qualquer religião --, é a de que há um movimento de divina embriaguez, incapaz de suportar o mundo racional dos cálculos. Este movimento é contrário ao Bem. O Bem funda-se na preocupação do interesse comum, que implica, de um modo essencial, a consideração do futuro. A divina embriaguez, à qual se assemelha o «movimento impulsivo» da infância, mantém-se inteiramente no presente. Na educação das crianças, a preferência pelo instante presente é a definição comum do Mal. Os adultos interditam, àqueles que devem alcançar a «maturidade» o divino reino da infância. Mas a condenação do instante presente em benefício do futuro, ainda que seja inevitável, torna-se uma aberração quando é extrema. Mais do que impedir-lhe o acesso fácil e perigoso, é necessário reencontrar o domínio do instante (o reino da infância), e isso exige a transgressão temporária do interdito.
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página 18
'A literatura e o mal'
Georges Bataille
edição Letra Livre
tradução de Manuel de Freitas
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