quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

O campo dos sonhos

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Vou até à sala da televisão e fumo um charro de erva. Vejo um programa sobre música clássica onde falam de um compositor chamado George Solti.

Passados alguns minutos, entra na sala uma rapariga de dezoito anos mais a Valerie. Traz uma touca com molas, ou alguma coisa parecida, sobre o cabelo. Olham para mim e riem-se. Olho para elas, rio-me e pergunto desconfiado porque usa ela aquela touca. A amiga diz que ela quer ser ainda mais loura. Existem alturas em que detesto a virgem maria.

Então, olho para a televisão e acho que devo mudar de programa. Ponho nos Simpsons e todos vemos os Simpsons. Engraçado, perante tanta saudável inocência, parece-me que sou quase um pai nesta sala, sentado no sofá com dois cinzeiros em cada braço, fumando o meu cigarro de enrolar, com barba de uma semana, óculos sujos, uma qualquer espécie de maluco não tomando banho há uma semana. Além disso, estou cheio de sono e até penso que se tomasse cogumelos talvez pudesse acordar. Um pai freak.

Uma vez, saímos de casa num carro em direcção ao campo, brincando com a paranóia da perseguição policial e aterrámos num campo verde chamado apropriadamente de "Field of dreams", onde inúmeras pessoas olhavam para o solo. Foi a minha segunda maravilhosa experiência relacionada com a terra. Da primeira vez, fugira quando tinha cinco ou seis anos, aterrorizado com os escaravelhos, os bichos da batata, tentando entrar por uma poça de água adentro; no final do dia, brincava com esses monstrinhos. Andar à procura dos cogumelos no meio da erva, reconhecer as espécies que são boas, metê-los num saco de plástico e regressar horas depois a casa, comê-los com tostas de manteiga, alucinar com as caras dos amigos e os músculos que se mexem num vídeo da MTV, ter medo do filme "Misery" que parece tão real e ir para casa prestando atenção aos possíveis elefantes cor-de-rosa.

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John Moore

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