terça-feira, 5 de outubro de 2021

Ah, sim?! Queres-me sentir uma louca? Queres mesmo saber o que eu penso? Para isso, terás de concordar que

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Ah, sim?! Queres-me sentir uma louca? Queres mesmo saber o que eu penso? Para isso, terás de concordar que a ira mira telescópica aponta directamente a nós, o público com impulsos de memória: uma fogueira e o céu violeta e púrpura da minha infância, um amanhã na lareira cheia de turfa industrial.

Lá em baixo a linha do horizonte, carvão, fuligem, smoke, um impulso de memória, uma gestalt de amor à frente, uma ilha no meio de um rio carmim, amor, delírio e reverie onde se queima uma imagem, um produto correndo para montante, para as cataratas de uma cidade-paraíso, um produto vindo da foz morta, uma aparição revertendo o ciclo de vida a traços longos e brancos, uma luz intensa sai deste rio.

Fumo. Uso um chapéu e sinto-me aristocrática, uma freira talvez.

Na mão direita ostento com vigor um guarda-chuva, eu durmo ou desmaiada estou entretida estou estou esculpindo uma caveira num toco de pau, no caos dos instantes em que não sonho, não me tenho lembrado dos sonhos, não me lembro de ter uma ponta afiada, lembro-me de sonhar, tomei nembutal? Não. Bebi cerveja ao balcão e fumei vários paivas em jejum encostada à árvore das caraíbas, perguntei se a antiga colega… quem é ela a fazer de mãe? Sei que a africana leva às costas dois pequenos bebés, nós adoptados.

Um homem olha e imagina que dele sai um outro homem com olhar transparente que sente vontade e deseja ou deseja e vem-lhe a vontade.

Eu vejo um subterrâneo cheio de insectos graníticos e invoco representando uma pose incrustada no ventre de um homem que se atira para o escuro, azul marinho onde uma felina em posição genital se roça ao lado de um velho de nariz vermelho, caminham para a foz morta, ao mesmo tempo vigiam os pontos de luz do subterrâneo, a felina leva às costas dois bebés que se abraçam e o terceiro é renegado, há sempre uma terceira de ciúme e yantras, o número funâmbulo de Seth, talvez a possível explosão da sereia, o demónio vermelho de inveja da plebe, Paracelsus a criança do sol junto à foz morta de um rio com a grila de fora, o meu oceano aceita todos os grilos na minha corrente, diariamente atingida pela ira das águas.

No céu, as nuvens púrpuras do pôr-do-sol ameaçam a esperança do rio revertendo-se azul na realidade que separa a audiência presa a uma perspectiva unidireccional, homens que olham o granítico subterrâneo: o velho e a felina ostentam a fé estampada no guarda-chuva: mudar de vida, mudar de sexo para que os sonhos das nossas luas se tornem reais e não cibernéticas. Vivas.

Dos vários ângulos riscam-se cores, a composição dos contrários. Existe a fuga além do nosso olhar de domingo de trabalho, fundimo-nos no interior das cores, pintamo-nos com óleo chorando quinze minutos disfarçadamente após a anulação do amor-próprio nos vértices.

Na pirâmide a cor esbate-se num último acto tentando ser perfeita e não em looc ser. Leves e suaves nos dias dele, os dias de hoje, os meus dias quando vivo, à minha volta em exacta harmonia desejada com o alfabeto, gamada emprestada comprada nunca devolvida queimada deitada fora dada de presente admirada adorada ou mesmo representada polvilhada com mel e pimenta em contraste saboreada na língua boca olhos saliva peito cores gargantas multicolores focada com luz de néon em strobe preto e fumada com branca no carnaval.

Algo ainda escapa… porque nunca passamos a festa juntos e certas formas importantes como o eyeliner ficaram escondidos com o passar do aqui e agora, essa pomba tão perfumada em fotografias que a tua ex colava à parede.

Já só existe a fuga prá escuridão que as fotografias iluminaram antes de queimar, sobre ela cai a errata: nunca tentara tirar um rolo da câmara e então o acontecimento foge todo pelo vértice maior da pirâmide, a maldição faraónica cumpre-se, assemelha-se ao suave fetiche, a tua pele branca, um tapete branquinho como neve ao sol da meia-noite, a aurora borealis leva ao peito o teu cabelo escorrendo estrelinhas pelos ombros abaixo em direcção de fuga, o teu tronco aparece-me querido vestido com lã de ovelha negra, o céu com estrelinhas reflectidas projectadas num espelho, aos impulsos da minha memória falta harmonia, equilíbrio orgástico, liberdade florida por detrás de ti — meu querido bígamo, asas de anja eu sou rasgada de violeta nas paredes e naquilo que só existiu em ficcionais livros e cds, à balança faltam aparelhos de gravação compacta, afifo-te discos, disco-te o número da sorte, afifo-te a lotaria e pergunto-te se essa vaca dessacralizada te oferece a sua pele, a sua mortalha mais colorida, azul de raiva marinha, aquela por baixo da sorte rádio digital e colunas de trinta vátios. 

Tenho vontade de construir uma balança, gostaria que esta comunicação fosse possível sobre a catarata e eu não adormecesse azul clara do ciúme na margem rosa e soubesse que ainda assim te amava, como é difícil ter a certeza, dependo de ti para não ser insegura, e ainda mo disseste inconsciente nos pilares da ramada de outono, vasos de flores, o pénis na sua florida jarra decapitada a alma, o jarro ao ombro do homem fiel, fiel à balança apontando ao céu meus olhos em fuga por onde não me lembro mais. Era um teste eu onde chumbei. Comecei a pensar que era verde, sonho alto que era uma lanterna verde do além terra, gloso altas estrofes sobre o fiel fálico, avistam-se as últimas cores da fuga porque dizes verdades de ruptura nervosa como ainda queres transar comigo acompanhado de rosas brancas e eu feita estúpida duvido, não creio no absurdo, queres clonar-me?, voltava velha à vida, tu não precisas de mais uma ex para eu te foder ainda, não creio no absurdo das palavras debotadas, escuras palavras nada valem, valem o que valem os azuis de raiva, vale a ideia de quem escreveu para não se esquecer e poder comprovar que realmente o mundo pára e aqui se gera a visão da palavra perfeita, a representação imperfeita porque a verdade não pode ser perfumada, cheira mal mas pode ser retransmitida por mim, a mulher que contempla estendendo-te a mão, lutando por ti, sou eu a resistir ser levada pela corrente, nadando contra a foz morta, tu és frágil e mexes com o meu inconsciente que procura modelos para descobrir porque nasceu, e agora não quero ser levada pela corrente, agarro-me a ti e retransmito a tua força, quero que me salves. És forte.

Tudo está em movimento, a foz turbina, não!, as pombas já não se suicidam de encontro às janelas, és forte, a tua pomba é venérea, eu a tua pombinha acasala-te e tu sabes isso, sou a tua súcuba, o teu ponto g na minha vulva, a antiga ponte ligando os vasos de flores ao leme onde tu meu faraó fumas a sobra das nossas priscas virtuais, eu olho para ti minha ganza e vejo uma prisca virtual no meu sonho cibernético, vejo o que sobra de um ouvido no xadrez incendiado, no útero escuro da papagajos com verdinhos bicos aconchegando vermes ovulados em forma de bebés para sempre no rendimento mínimo, uma vez mais os nossos cérebros siameses não se cindiram para observar e registar que continuas a ser só meu e não dos sons de ninfas e narcisos que a multidão deseja por malícia que se confirme, aguarda ao sol de domingo na missa santa, bate quase palmas de ironia sociológica amen.

Olho e vejo. A multidão espera o casamento na foz morta e o meme que a seguir subirá o rio carmim, o meme hermafrodita, olho e vejo: no corpo da bela a cabeça do belo, gatinhos mortos é de mau gosto, olheiras carregadas e cabelos já cãos do bustos ainda não esquecido da tua ex fatal. É impossível definir o significado, a dispersão evolui além do mundo mental e sempre o mesmo vazio, antes de Planck, sempre a anulação dos sentidos e do ser racional gerado pretensamente no momento do último orgasmo que abortou o gatinho e por isso morro de desgosto, um gatinho morto subirá o rio carmim e transformar-se-á na tua cadela, obrigando-nos a anular o sentido do talmude, dos sentidos e do ser racional, obrigando-me a afirmar: parar olhar e sentir paz, amoras a separar o céu da terra, não éramos nós meu amor que nos lambíamos eternamente dentro do sonho recorrendo a dispositivos? A tua ex dizia que pintava aquilo que via e tu reinas no céu, enquanto eu não vejo paz nem amor, só ciúme e enterrada estou e vejo a ilusão ficcionada da distorção esquizofrénica escarrapachada nas vozes que comentam na multidão. É fácil achar que nada é real. Nada é de facto real e o modelo de balança que construí não é perfeito, os sentidos são duplos, negados, sentidos sem sentido, jogos de bisontes-fêmea onde nada faz sentido, bissexualidade ambígua nesta noite de carnaval? O modelo não é perfeito. Sei que adoro uma representação, uma ganza de graça, tu adoras que a tua ex te pergunte se ainda te masturbas e como o fazes, adoro rotações e translações e círculos avançando nas elipses do infinito invisível.

Para quê explicar o sentido? Tu gostas de explicar o sentido, tu gostas de representar. Vive masé! Pra quê explicar o sentido, o homo normalis não vê a verdade da aurora, as imagens cristalizadas em pureza, eu não gosto de ser representada mas sim amada e não adorada como deusa que sou, eu não sou sem sexo, é a força dos impulsos que nos atrai, será que devemos renegar os impulsos minha loba solitária?, o sentido é tão estúpido e procura-se muitas vezes onde ele não está, a mim parece-me que ele existe nesta perspectiva: virgem é a mãe, estamos perante uma cidade paraíso numa foz às portas da morte orgástica mas puramente animalmente bruta, eu serei sempre essa criança nada morta, irmã namorada filha mulher amante médica pintora ou psicóloga mas sem nunca ser digna, essa será a minha última vontade, não quero amigos, que interessa se o próximo me passará as mãos pelas coxas dizendo que muito calada estou, dizendo que anda mouro na costa e eu sempre como criança ingenuamente perversa dizendo: mas onde vês tu essa presença?, não vês que ultrapassar a moral da dignidade... seremos loucos de mais para nos termos?, ainda?, meu próximo ex morto e eu felina abortando a nossa prima obra. Ultrapassar a moral da dignidade e dos filhos, esses que construam a grande obra, lança-os às cadelas para que construam a grande obra: madalena arrependida.

Alegra-te que é noite de carnaval, sonha ganza comigo ao ler:

yours forever manuelle.

Post-scriptum: estas palavras foram escritas num já certificado estado de loucura, talvez nunca consigam perceber o porquê do nonsense em já num escritas foram palavras estas: scriptum-posT

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manuelle biezon



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