Viu-a no café depois do jogo na televisão bebendo cerveja e enamorou-se do seu sorriso franco, pagou-lhe mais um copo e depois outro e, enquanto ia pagando, sentia dentro de si entrar a alegria que lhe faltava, aquela mulher que tão frágil parecia, tão pequena no seu metro e meio de altura, com o seu rir das parvoíces que ele dizia e das propriedades que ele mostrava e dos contos de vida que ele reexperienciava fazia-o parecer trinta anos mais novo. Foi por isso sem surpresa que a convidou a ir passar a noite com ele.
Ela nem reparou no convite, deixou-se ir, era para ela mais uma experiência alucinante a caminho do fim, Vânia queria morrer. Vânia falara comigo uns meses antes, queria que eu lhe arranjasse uma pistola, não para se defender, mas para poder entrar num bairro social, dar dois tiros para o ar e receber no corpo uma saraivada de metralhadora. Vânia acreditava tal como a sua igreja que o suicídio significava a condenação eterna do suicida, e por isso, Vânia escolheu ser morta, e para tal estava disposta a provocar a própria morte. Falou comigo e eu não a ajudei, disse-lhe O teu deus não dorme, ele sabe que o estás a enganar.
Vânia era pragmática e eu não a ajudando ela procurou ajuda em outro alguém e encontrou Alberto, um ex-militar reformado e reinserido e reabilitado após uma fuga para o estrangeiro por processo de violência doméstica. Alberto tem a foto do Cavaco emoldurada na parede da sala de jantar, Cavaco trouxe-o amnistiado de volta à terrinha onde agora vegeta no café bebendo e dando a beber, e nunca falta dinheiro para jogos de baralho quando o estabelecimento encerra e eles lá ficam até altas horas.
Nessa noite não ficou para a sueca, disse-lhes que tinha encontrado uma princesa, e que a deixara em casa. Conhecera Vânia ontem e logo lhe dera as chaves. Vânia aceitou.
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