segunda-feira, 29 de junho de 2015

M. plays the violin


'M. plays the violin'
óleo sobre tela
73cm por 60cm
2015
ZMB

M. toca violino.
Já está há alguns anos no Porto.
Amigos das artes ajudaram na sua integração. Ainda bem!
Hoje já pensa em estudar jornalismo.
M. tem no seu repertório uma melodia que eu conheço cantada pela June Tyson num álbum de Sun Ra: 'Smile' 
Toca também, de vez em quando, uma melodia de Chico Buarque, 
além de outras músicas que não sei identificar.
Eu talvez venha no futuro a fazer-lhe um 'Jimi on Fire': 
ela perguntou-me quando estávamos na feira por quanto eu lhe pintava um Jimi Hendrix a arder err... eheh um Jimi Hendrix com a guitarra a arder.
Vamos ver.



sábado, 27 de junho de 2015

A tradição e os costumes


Dá-me um cigarro,
Dá-me lume,
Dá-me uma cerveja,
Já sabes o costume,
Dá-me uma mortalha,
Que eu enrolo isso,
Dá-me a pedra,
E deixa-te disso.

Dá-me uns trocos para beber um cafe,
Vá lá, já sabes que estou farto de estar em pé,
E não me olhes com essa cara atravessada,
Dá-me o telefone da tua namorada,

Porquê, porquê, porquê? porque ela tem uma coisa para mim,
Quantas pedras de gelo queres no teu gin?

Dá-me a tua vida, dá-me qualquer uma,
Troco na boa na boinha pelos meus ténis puma.
Da-me um coração que o meu foi roubado,
A cabra que o levou nem sequer deixou recado.

Dá-me um pouco da tua classe
Quem sabe talvez resultasse,
Prometo que não a estrago, 'tasse?

Dá-me um bilhete para o cinema, melhor,
Dá-me cara duma estrela de cinema
Um sorriso pepsodent de orelha a orelha
Fofinho e inocente tal e qual uma ovelha

Da-me a tua imbecilidade numa aspirina
E juntalhes a tua integridade cabotina
Achas que cabe tudo na mesma terrina
Sabia-me mesmo bem agora uma gelatina

Dá-me um tiro se isso te faz sentir melhor
Dá-me um lenço, dá cá eu limpo-te o suor
Não consegues atirar? bem me queria parecer isso
Dá cá essa merda,
Eu faço-te o serviço.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Quando Macau era uma espécie de sonho a concretizar

´
´Café Macau - Porto'
Desenho, a caneta preta, impresso e colorido com tinta de aguarela
tamanho A4
2015
ZMB

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Paco de Lucia - Concierto de Aranjuez (Joaquin Rodrigo)



No dia de S. João e a recuperar da noite mais longa do ano
re-coloco Paco de Lucia
e dedico o post
ao 'imperador' Augusto da guitarra.

domingo, 21 de junho de 2015

A verdade: amei-vos a todas e de certo modo, à minha maneira é certo ainda amo. É um defeito meu. Amo-vos mas nunca tive paciência para vos aturar. Daí o historial de rupturas. Para logo a seguir sentir que a vida não faz sentido sozinho, e que é doentio pensar «mais vale só que mal acompanhado», e que deve ser minha a culpa de as coisas não correrem bem esquecendo as vossas culpas, só porque uma vez por outra vocês voltam para lutar por mim. «Deve ser amor...» digo e tudo recomeça, é de novo Primavera, fazemos confidências e planos até que há um clique, uma palavra mal compreendida, um tom de voz, um segredo, qualquer problema no trabalho, um olhar inocente que é interpretado como indecente, «já não gostas de mim!» e nós a fazermos de tudo para compreender as entrelinhas das palavras porque não somos capazes de lhes ser indiferente, as ordens, os olhos acusadores, os olhos furibundos até que haja um estouro Pum! e eu expluda num Não de violência: ou apanho um comboio para... ou digo que vou comprar cigarros, mais uma ruptura, mais uma depressão, mais uma choradeira. Ciclo eterno, um padrão. O meu maior amor de jovem adulto terminou um dia, andei anos a tentar tê-la de volta, tornou-se uma assombração porque há muito que o verdadeiro interesse se perdera. Para ela não passarei de um merdas criminoso. Hoje em dia, não faço intenção de a fazer mudar de ideias. Aliás, consegui esquecê-la quando na minha última estada no hospital conheci uma perdida. Uma perdida está em princípio de igualdade com um perdido mas ninguém acreditou em nós. Nem a família dela nem a minha. Fomos felizes enquanto pudemos até o sistema fazer de nós marionetas e as nossas manias e desejos de fazer ao outro aquilo que não gostamos que nos façam se sobrepor ao amor. Os amores são todos verdadeiros ao início e nós esgotámos todas as possibilidades, o padrão esteve sempre lá, Fomos namorados, amancebados, vivemos juntos por duas vezes e o que não fiz aos vinte e três com a G. fi-lo aos quarenta com a Sanea. Eu nunca quis falhar, nunca prometi falhar mas falhámos. Ainda assim, dou-me por satisfeito. Mesmo que mais nenhuma mulher apareça, a minha barriga não teve só miséria, o padrão: nasci velho, não vos aturo, o meu futuro é ser vadio.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

As urtigas, o passado
metaforico-mente-não deixa saudades
o passado às urtigas

'
Paro por uns instantes de mastigar, olho para o prato, olho para o lado, à minha frente e numa pequena caixa rectangular continua o sol, pego no copo, bebo um pouco de água, engulo em seco, continuo a mastigar e no fim pergunto: Não se importa de explicar melhor?
Desiludes-me meu rapaz desiludes-me.
O espelho, the Unix review says: a sua mente observava a expressão de um rosto que dizia, sempre pensei como seria óptimo se eu pudesse ser invisível, um alecrim em frente de um narciso, e olhar o diabo que me acoita durante o sonho. The Data networks says: a fotografia de O. com um certo ar tocável, bizantino de bizâncio, óculos de aros grossos, bárbara rude e grisalha olhando para fora, ali à sua frente dizendo: as palavras já não valem nada, já nem sequer salvam, podemos dizer: não, não tem nada a ver, eu é que ainda não consegui explicar as alucinações que se podem ter ao olhar para certos livros de electro magnetos nem mesmo as complicadas relações elipticoestruturantes entre as várias personagens, as palavras deixaram de ter valor, já nem sequer se fala delas, já tudo não passa de velha retórica nazi gasta, anulam-se a si próprias, as palavras não valem nada, só os actos poderão ter algum valor, é preciso fazer, ouviste? mas saber o que fazer, como fazer. O. levanta-se e antes de virar costas diz: Não te preocupes meu filho, tenho confiança e grandes planos para ti. Entretanto, olha, escrevi esta carta e antes de ta ler, ao mesmo tempo que a escrevo no portátil tipo ph, vou-te explicar: ela representa uma encenação de um acto de amor, é um manifesto político e vai acompanhado de uma
fotografia do Luis Bunuel e da Catherine Deneuve, e se o perceberes deverás encará-lo como o poema que às vezes te apetece escrever dedicado à secretária da sociedade, um poema de amor tão violento só com o fogo amigo de se calhar a fazer desmaiar e então é melhor não dizer, pois senão as pessoas vão pensar merdas erradas. Então, aí vai:
Só para que se note, Júlio eu próprio sou o autor deste relato, eu o condenado ao desterro nesta prisão de alta segurança e onde como sempre existe um letreiro a dizer: projecto financiado pela sociedade das cebolas com lâmpadas e mais uma porra de merda... mas que nunca diz quando vai acabar e quem vai ficar com o portátil envenenado e quanto isso vai custar ao meu pobre bolso e ao de todos os outros pobres e às duas ou três mil pessoas que trabalham na sociedade e a todos os que trabalham no duro de sol a sol para levar a comida para os filhos, para que o pais progrida e para que outros mais manhosos possam ter cameras pos security instaladas para que não sejam atingidos pelas pedradas de quem sabe o que, verdadeiramente caros espectadores, se não deve saber mas adiante... e então encerre dentro de quatro paredes espelhadas e limpas todos os dias por belas empregadas, daquelas que vós os presos do antigamente se roíam ao vê-las em programas da eurovisão, maluquinhos como eu que chamam touras às gajas e que resolvem então estripar o cerne do mal da sociedade que para o caso e para disfarçar era apenas uma noblissima mestra da comunhão da minha paróquia que me recusou despachando-me com os seguintes cuidados então disse-me: sr. J., tenho-o na maior das considerações, você sabe, mas a sua idade não perdoa e, além disso, o meu marido dá-me sustento e alegria. Ao ouvir isto mandei às favas as convenções e eu, herdeiro de Panurgo, esqueci-me do local sagrado onde estava, não perdi tempo, a santa custódia, que deus a tenha claro credo abrenúncia, caiu-lhe pelas bentas abaixo, vi assim o génesis nascer, não tenho remorsos de nada. Penso até que muitos hão-de concordar comigo, não é coisa que se faça a um homem com letra grande, e depois se a Sza Sza Gabor tem oitenta e tal anos e arranja muitos namorados jovens e belos, onde está a suposta igualdade de direitos?, ah!, sacana, recordas-me o dinheiro, o infame dinheiro!, pois eu dinheiro tenho muito, ouviste?, ou não fosse eu doutorado em teologia com um tese sobre os gnósticos de Giordanno Brunno e os Cátaros! Odeio todo o mundo!, isso é natural e não passa. A história do vinho do Porto é a maior treta que alguém inventou e depois não tenho culpa de andar a ouvir Chet Baker nessa altura.
Desculpe lá, não percebi a história do vinho do porto, é só para ocasiões especiais? 
Não, o que não resultou foi mesmo o vinho do porto que era falsificado. De qualquer modo o teu tempo terminou. Vejo-te ao jantar.
'

in "Kcoillapso"
Claudio Mur

(um livro em formato electrónico disponível aqui:

terça-feira, 16 de junho de 2015

Música eterna / arrepios na espinha / o espírito dança



Artist: Dead Can Dance
Song: Musica Eternal 
Album: Dead Can Dance (Track 10)
Year: 1984



Artist: Dead Can Dance
Song: Yulunga (Spirit Dance)
Album: Into the Labyrinth
Year: 1993

segunda-feira, 15 de junho de 2015

A minha mãe é diabética, já teve um avc mas ainda não usa insulina. Além da dose insuportável de comprimidos, o médico prescreveu-lhe exercício físico. Já tentámos que fosse fazer piscina mas ela tem vergonha. Nos últimos meses temos tentado convencê-la a fazer caminhadas. Comprámos-lhe um fato de treino, umas sapatilhas, para a incentivar. Ela dizia que não tinha mas também a vontade de ter era pouca. Eu pela minha parte tentei dizer-lhe: «Lembras-te quando eu estava doente, tu dizeres-me para eu não desistir, para eu tomar banho, para me fazer gente? Agora és tu que parece que já desististe... vá lá lembra-te do que me disseste há anos.» Esta minha conversa ao telefone pareceu ter resultado com ela, pois foi caminhar duas ou três vezes numa semana pela fresca da manhã na companhia do meu pai. Mas foi sol de pouca dura, tem sempre muitos afazeres. E se a tentativa de eu apelar ao passado e ao modo como eles lidaram comigo parece resultar às vezes com ela (porque me tem amor e vê nas minhas palavras igualmente amor além de preocupação), com o meu pai esta estratégia não resulta, eu tentei dizer ao meu pai: se ele não a acompanhasse na caminhada, ela provavelmente não a faria ou, se a fizesse, estaria sempre a parar para falar com esta ou qualquer vizinha. Quando tentei explicar isto ao meu pai, ele irritado disse: «O problema é dela!» 
Neste momento, o meu pensamento bloqueou e não disse o que pensava, calei-me a pensar: «É este o amor que tens pela minha mãe. Queria ver se ela nos morresse e, se tu de mim pouco pareces esperar, queria ver qual das tuas filhas ia tomar conta de ti...» 
Mas calei-me, não disse nada, minutos depois eram horas de me vir embora, vim para casa, tive dificuldade em adormecer e pensei em quão ingrato é o meu pai que sempre foi uma pessoa doente e sempre teve todo o conforto na convalescença. Hoje em dia, eu que um dia me virei a ele e ele, em vez de me dar o correctivo que talvez merecesse, preferiu ser cobarde e chamar a bófia ao filho... eu que um dia mais tarde fiz com ele as pazes quando esteve quase a ficar paraplégico devido à queda de uma ribanceira na aldeia... enfim, pormenores que não interessam a ninguém. Quão ingratos podem ser os velhos. A bondade humana existe mas só nos faz bem quem de nós gosta. Quando não gostam de nós, o melhor que se pode esperar é que nos ignorem, a partir daqui é sempre a descer, podes ser ingénuo e admitir que erraste mas nunca te perdoarão, olharão até com desprezo a tua tentativa humilde de restabelecimento de relações e se não o disserem pensarão: «vergaste por fim... o respeitinho e a boa-educação...»

sexta-feira, 12 de junho de 2015

... or you call me instead

Exposições efectuadas
em nome de Rui Lourenço
ou em nome de ZMB


2014, "ZMB na Casa da Horta", Casa da Horta, Porto

2012, "Arte Occupa" - exposição colectiva, Casa Viva, Porto

2010, "80 anos de Zeca" - exposição colectiva, A cadeira de Van Gogh, Porto

2008, Argo - exposição colectiva, Biblioteca Municipal de Gondomar

2008, "Fica alma fica", Clube Literário do Porto, São Nicolau Porto

2008, "A imaginação já é para servir de pedreiro", Púcaros Bar, Miragaia Porto

2007, Centro Cultural Rio Tinto, Rio Tinto



Emails para contacto futuro:

ed.cassiber@gmail.com
zmb_mur@yahoo.com

..


quarta-feira, 10 de junho de 2015

Fábrica das gravatas


Fábrica das Gravatas – solo clown de Pedro Correia 
Cine-Teatro Garrett - Povoa de Varzim 
21 junho 2015 | domingo | 16h00 

Sinopse : 
"Fábrica das Gravatas" é um solo de palhaço que aborda 
de uma forma absurda, filosófica e poética a condição do homem 
em relação às máquinas, à tecnologia e ao trabalho.


domingo, 7 de junho de 2015

Os cofres cheios de um flibusteiro

'
O homem e o cavalo foram imediatamente substituídos por Whirligig que, esbelto e gracioso no seu traje de palhaço e com a cara enfarinhada, trazia separadamente pelas asas, com a ajuda das duas mãos e dos dentes, três cestos fundos finamente entrançados que depositou no palco.
Macaqueando com habilidade o sotaque inglês, apresentou-se como um flibusteiro que acabava de obter grandes lucros em dois jogos diferentes.
Ao mesmo tempo, mostrava os cestos, cheios, respectivamente, de moedas, de peças de dominó e de cartas de jogar azul-escuras.
Agarrando primeiro no cesto das moedas que mudou para o lado direito, Whirligig, enfiando as duas mãos nas moedas de cobre, erigiu à beira do estrado de madeira uma curiosa construção que encostou à parede.
As moedas grandes e pequenas eram rapidamente empilhadas sob os dedos exercitados do palhaço, que parecia estar habituado a fazer este tipo de trabalho. Então começámos a distinguir a estrutura de um torreão feudal, atravessado por uma grande porta, à qual ainda faltava a parte superior.
Sem parar um instante, o ágil obreiro continuou a trabalhar acompanhado de um tilintar metálico cheio de sonora alegria. Em alguns pontos, abriam-se estreitas seteiras na parede arredondada que ia aumentando a olhos vistos.
Ao chegar à altura marcada pelo nível da porta, Whirligig tirou da manga uma grande barra, fina e achatada, cuja cor acastanhada se poderia confundir com a tonalidade suja das moedas. Esta viga resistente, colocada a fazer de ponte entre os dois pilares do vão da porta, permitiu que o palhaço continuasse a sua obra sobre um suporte sólido e completo.
As moedas amontoavam-se ainda em abundância mas, quando o cesto ficou vazio, Whirligig apontou com um gesto orgulhoso para uma enorme torre artisticamente ameada, que parecia fazer parte de alguma antiga fachada, onde a única esquina se assemelhava a um cenário.
'

, página 64
"Impressões de África"
Raymond Roussel
Edição Relógio d'água

sábado, 6 de junho de 2015

Just a juvenile love song
'cause it's difficult for a patient to have patience



Na altura em que esta música saiu
só pensava em encontrar a gaja
que me desse inspiração para ganhar dinheiro para uma guitarra
e para lhe cantar esta música ao ouvido.
Mas eu nem sabia o que o Axl estava a cantar. Não percebia a letra. Tinha 16 anos.
Por estes dias, ri-me com o vídeo em que o meu sobrinho aparece com os colegas da escolinha a cantar e a dançar Bruno Mars.
Noto-lhe traços de uma pequena semelhança com o que me lembro de ter sido
mas estou confiante que ele saiba se safar melhor do que eu.

--

"Patience"

1,2,1,2,3,4
[whistle]
Shed a tear 'cause I'm missin' you
I'm still alright to smile
Girl, I think about you every day now
Was a time when I wasn't sure
But you set my mind at ease
There is no doubt
You're in my heart now

Said, woman, take it slow
It'll work itself out fine
All we need is just a little patience
Said, sugar, make it slow
And we come together fine
All we need is just a little patience
(patience)
Mm, yeah

I sit here on the stairs
'Cause I'd rather be alone
If I can't have you right now
I'll wait, dear
Sometimes I get so tense
But I can't speed up the time
But you know, love
There's one more thing to consider

Said, woman, take it slow
And things will be just fine
You and I'll just use a little patience
Said, sugar, take the time
'Cause the lights are shining bright
You and I've got what it takes
To make it, We won't fake it,
I'll never break it
'cause I can't take it

[whistle]
...little patience, mm yeah, mm yeah
need a little patience, yeah
just a little patience, yeah
some more patience, yeah
need some patience, yeah
could use some patience, yeah
gotta have some patience, yeah
all it takes is patience,
just a little patience
is all you need *

I BEEN WALKIN' THE STREETS AT NIGHT
JUST TRYIN' TO GET IT RIGHT
HARD TO SEE WITH SO MANY AROUND
YOU KNOW I DON'T LIKE
BEING STUCK IN THE CROWD
AND THE STREETS DON'T CHANGE
BUT BABY THE NAME
I AIN'T GOT TIME FOR THE GAME
'CAUSE I NEED YOU
YEAH, YEAH, BUT I NEED YOU
OO, I NEED YOU
WHOA, I NEED YOU
OO, ALL THIS TIME **
(ah)

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Mais do que admiração e quase pura veneração:
«Podia fazer dele [de mim] o que quisesse.»

'
-- E o canto?
-- Não gosto muito de cantar. Aprendi algumas canções tradicionais, evidentemente, enquanto dançava, e canto-as sofrìvelmente; mas quanto às novidades tenho de me limitar ao que oiço na rádio e nunca me sinto segura com estas imitações. Tenho a certeza de que se rirá das minhas interpretações pessoais! Além disso, quando canto para alguém que conheço bem falta-me sempre a voz. É muito melhor quando estou na presença de estranhos: mais firme e mais ampla.
(...)
-- Com que então a fazer-se caro? -- gracejou Komako, cujo lábio esboçou um movimento encantador, ao mesmo tempo que colocava sobre o joelho o samisen e, com o olhar grave, transformada noutra pessoa, não teve mais olhos senão para a partitura colocada à sua frente. -- Desde o Outono que ando a preparar esta música -- afirmou.
E foi uma canção de Kanjinchô que ela se se pôs a tocar.
Instantâneamente, Shimamura sentiu-se como que electrizado, percorrido por um grande arrepio que lhe pôs todo o corpo como pele de galinha. Parecia que as primeiras notas cavavam um vazio nas suas entranhas, vazio esse onde vinha repercutir-se, nítido e puro, o som do samisen. Havia nele mais que admiração: era uma estupefacção que o havia derrubado como um golpe bem ajustado. Levado por um sentimento que estava perto da pura veneração, submerso, afogado num mar de mágoas, comovido, perdendo o pé, incapaz de resistir, só podia deixar-se levar por aquela força que o arrastava, entregando-se sem defesa, com alegria, ao bel-prazer de Komako. Podia fazer dele o que quisesse.
Mas como podia ser?
'

, página 76
"Terra de neve"
Yasunari Kawabata
Tradução Armando da Silva Carvalho
Edição Publicações Dom Quixote


quarta-feira, 3 de junho de 2015

Um poema de Hilda Hilst

Hilda Hilst
na rádio Antena 2
esta semana:

Poema 4

Na rádio toca sem o anúncio publicitário
Na internet temos de levar com muitos segundos de publlicidade
Menos mal pois é possível partilhar e guardar estas palavras.

terça-feira, 2 de junho de 2015

O trabalho de Mira Calix


Inside There Falls - Behind The Scenes from mira calix on Vimeo.

Inside There Falls