domingo, 7 de junho de 2015

Os cofres cheios de um flibusteiro

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O homem e o cavalo foram imediatamente substituídos por Whirligig que, esbelto e gracioso no seu traje de palhaço e com a cara enfarinhada, trazia separadamente pelas asas, com a ajuda das duas mãos e dos dentes, três cestos fundos finamente entrançados que depositou no palco.
Macaqueando com habilidade o sotaque inglês, apresentou-se como um flibusteiro que acabava de obter grandes lucros em dois jogos diferentes.
Ao mesmo tempo, mostrava os cestos, cheios, respectivamente, de moedas, de peças de dominó e de cartas de jogar azul-escuras.
Agarrando primeiro no cesto das moedas que mudou para o lado direito, Whirligig, enfiando as duas mãos nas moedas de cobre, erigiu à beira do estrado de madeira uma curiosa construção que encostou à parede.
As moedas grandes e pequenas eram rapidamente empilhadas sob os dedos exercitados do palhaço, que parecia estar habituado a fazer este tipo de trabalho. Então começámos a distinguir a estrutura de um torreão feudal, atravessado por uma grande porta, à qual ainda faltava a parte superior.
Sem parar um instante, o ágil obreiro continuou a trabalhar acompanhado de um tilintar metálico cheio de sonora alegria. Em alguns pontos, abriam-se estreitas seteiras na parede arredondada que ia aumentando a olhos vistos.
Ao chegar à altura marcada pelo nível da porta, Whirligig tirou da manga uma grande barra, fina e achatada, cuja cor acastanhada se poderia confundir com a tonalidade suja das moedas. Esta viga resistente, colocada a fazer de ponte entre os dois pilares do vão da porta, permitiu que o palhaço continuasse a sua obra sobre um suporte sólido e completo.
As moedas amontoavam-se ainda em abundância mas, quando o cesto ficou vazio, Whirligig apontou com um gesto orgulhoso para uma enorme torre artisticamente ameada, que parecia fazer parte de alguma antiga fachada, onde a única esquina se assemelhava a um cenário.
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, página 64
"Impressões de África"
Raymond Roussel
Edição Relógio d'água

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