quarta-feira, 17 de junho de 2015

As urtigas, o passado
metaforico-mente-não deixa saudades
o passado às urtigas

'
Paro por uns instantes de mastigar, olho para o prato, olho para o lado, à minha frente e numa pequena caixa rectangular continua o sol, pego no copo, bebo um pouco de água, engulo em seco, continuo a mastigar e no fim pergunto: Não se importa de explicar melhor?
Desiludes-me meu rapaz desiludes-me.
O espelho, the Unix review says: a sua mente observava a expressão de um rosto que dizia, sempre pensei como seria óptimo se eu pudesse ser invisível, um alecrim em frente de um narciso, e olhar o diabo que me acoita durante o sonho. The Data networks says: a fotografia de O. com um certo ar tocável, bizantino de bizâncio, óculos de aros grossos, bárbara rude e grisalha olhando para fora, ali à sua frente dizendo: as palavras já não valem nada, já nem sequer salvam, podemos dizer: não, não tem nada a ver, eu é que ainda não consegui explicar as alucinações que se podem ter ao olhar para certos livros de electro magnetos nem mesmo as complicadas relações elipticoestruturantes entre as várias personagens, as palavras deixaram de ter valor, já nem sequer se fala delas, já tudo não passa de velha retórica nazi gasta, anulam-se a si próprias, as palavras não valem nada, só os actos poderão ter algum valor, é preciso fazer, ouviste? mas saber o que fazer, como fazer. O. levanta-se e antes de virar costas diz: Não te preocupes meu filho, tenho confiança e grandes planos para ti. Entretanto, olha, escrevi esta carta e antes de ta ler, ao mesmo tempo que a escrevo no portátil tipo ph, vou-te explicar: ela representa uma encenação de um acto de amor, é um manifesto político e vai acompanhado de uma
fotografia do Luis Bunuel e da Catherine Deneuve, e se o perceberes deverás encará-lo como o poema que às vezes te apetece escrever dedicado à secretária da sociedade, um poema de amor tão violento só com o fogo amigo de se calhar a fazer desmaiar e então é melhor não dizer, pois senão as pessoas vão pensar merdas erradas. Então, aí vai:
Só para que se note, Júlio eu próprio sou o autor deste relato, eu o condenado ao desterro nesta prisão de alta segurança e onde como sempre existe um letreiro a dizer: projecto financiado pela sociedade das cebolas com lâmpadas e mais uma porra de merda... mas que nunca diz quando vai acabar e quem vai ficar com o portátil envenenado e quanto isso vai custar ao meu pobre bolso e ao de todos os outros pobres e às duas ou três mil pessoas que trabalham na sociedade e a todos os que trabalham no duro de sol a sol para levar a comida para os filhos, para que o pais progrida e para que outros mais manhosos possam ter cameras pos security instaladas para que não sejam atingidos pelas pedradas de quem sabe o que, verdadeiramente caros espectadores, se não deve saber mas adiante... e então encerre dentro de quatro paredes espelhadas e limpas todos os dias por belas empregadas, daquelas que vós os presos do antigamente se roíam ao vê-las em programas da eurovisão, maluquinhos como eu que chamam touras às gajas e que resolvem então estripar o cerne do mal da sociedade que para o caso e para disfarçar era apenas uma noblissima mestra da comunhão da minha paróquia que me recusou despachando-me com os seguintes cuidados então disse-me: sr. J., tenho-o na maior das considerações, você sabe, mas a sua idade não perdoa e, além disso, o meu marido dá-me sustento e alegria. Ao ouvir isto mandei às favas as convenções e eu, herdeiro de Panurgo, esqueci-me do local sagrado onde estava, não perdi tempo, a santa custódia, que deus a tenha claro credo abrenúncia, caiu-lhe pelas bentas abaixo, vi assim o génesis nascer, não tenho remorsos de nada. Penso até que muitos hão-de concordar comigo, não é coisa que se faça a um homem com letra grande, e depois se a Sza Sza Gabor tem oitenta e tal anos e arranja muitos namorados jovens e belos, onde está a suposta igualdade de direitos?, ah!, sacana, recordas-me o dinheiro, o infame dinheiro!, pois eu dinheiro tenho muito, ouviste?, ou não fosse eu doutorado em teologia com um tese sobre os gnósticos de Giordanno Brunno e os Cátaros! Odeio todo o mundo!, isso é natural e não passa. A história do vinho do Porto é a maior treta que alguém inventou e depois não tenho culpa de andar a ouvir Chet Baker nessa altura.
Desculpe lá, não percebi a história do vinho do porto, é só para ocasiões especiais? 
Não, o que não resultou foi mesmo o vinho do porto que era falsificado. De qualquer modo o teu tempo terminou. Vejo-te ao jantar.
'

in "Kcoillapso"
Claudio Mur

(um livro em formato electrónico disponível aqui:

Sem comentários:

Enviar um comentário