sábado, 6 de agosto de 2022

Diga lá resiliente leitor, se não se sente como se tivesse levado com a torradeira nas trombas [sic], se não sente o sino da catedral a retinir dentro vossa massa cinzenta e as sinapses a caírem em saco roto

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— E foi esta parte do discurso que o Coelho não leu. So goodnight.
— Anda cá, meu amor!
— Ah sim, o monstro das bolachas! Olha, eu lembro-me do monstro das bolachas… fartei-me de bater punhetas a ver a rua sésamo. Não perdia um episódio. Deixei-te sem resposta. Comunica para a semana. Abraços à família.
Entretanto acordo e, na mudança da hora, sou informado que uma tigre saiu da jaula no Circo Claudio, atravessou mesmo rio. Consta que a lady foi capturada duas horas depois em Lamego por quarenta gnrs e bombeiros e já voltou ao circo. Não consta que tivesse fome. De qualquer modo, o problema do ponto de vista do estômago desta lady é estar domesticada, mas mesmo não sabendo caçar espuma-se como uma cadela com raiva ou cio, basta um alemão pastor para a pôr na ordem, ela limita-se tal como o grande empresário a fazer planos para um passaporte de embarque para as Ilhas Caimão. Os porquês de tais preparos nem a família os saberá, talvez crimes fiscais, talvez comunicações, talvez bater e insultar quem lhes paga a pedicure, a inevitável revista das partes íntimas. Entretanto mudou a hora, tomo café e leio o jenê.
Antes de sair da habitual boca de café compro o meu tabaco de cachimbo que uso para enrolar cigarros e pagar menos imposto. Ralo o tabaco, enrolo enquanto subo a rua pensando que um dia chegará em que a terei de fumar, quer dizer, filmar ela a fumar, ela gosta de fumar de graça os meus charros. Entretanto o mundo precisa de saber e um café, um jenê, um cigarrito e meia hora depois da hora, o sol mudou de passeio, sento-me num banco com sol derretendo o frio e registo esta observação no caderno porque tenho medo de quando chegar a casa a minha memória selectiva não a retenha. A verdade é que tenho medo de me esquecer, tenho medo de me tornar no novo presidente com alzheimer e sem dinheiro para pagar o repasto da Maria (a vítima), principalmente quando vejo nesta assumpção de doença um motor para desculpabilizar projectos e modelos de desenvolvimento passados e hoje tu maria pagas pelo que fizeste e o palhaço diz a ver se cola: portugueses, temos de voltar ao mar!
Se eu registo isto é para que no futuro o possa ler e ver de algum modo a nuance de quem fui, de quem fiz por viver com, as tuas birrinhas de putinha, os meus poucos irritantes ciúmes, sinal de que, se calhar, amei poucas vezes, ah e claro também uma reflexão psicogeográfica, aqui uma vez por outra, acerca das estrelas do sistema. Quem não chora não mama. Ou não será «quem não mama não chora»?
Por isso, fica ao piratinha prometido que quando eu for presidente da república das bananas lhe comprarei uma nave espacial mercedes para ele navegar de planeta em planeta. Chegarei a casa e comerei uma boa sopa. Para quem tem pouco às vezes chega, todo o pobre sabe que não pode comer bife mas não é preciso vir a Jonet cheia de graça e importância parlar o que todo o pobre tem vergonha de sentir — eu… escravo da misericórdia. Obrigadinho pelo cigarrinho. Para eliminar a indiferença e a ausência de comentários externos, secariam muitas terras onde se plantaram eucaliptos para serem transmutados em papel, o que me safa agora neste momento de piada interna, é ter à minha frente um pinheiro perfumado para desbastar.
Entretanto o chinês foi, pela raivosa voz do cão poeta, avisado que lhe está interdita e só a ele a utilização da torradeira. O chinês, em tom algo divertido de desafio, responde que serão precisas duas testemunhas para comprovar os factos. A solução literária do poeta é deslocalizar a torradeira para o seu quarto, o corredor até parece a rua central do bairro. No dia seguinte não testemunhei mas a moça de recados confidencia-me que falaria com o poeta. Ele consente e relocaliza novamente a torradeira para a cozinha em que «mi comida es mi comida and tu comida es mi comida», acção verdadeiramente admirável mas, no entanto e segunda a moça de recados, apenas temporária, o tempo suficiente de ela fazer os preparativos de aluguer dos dois camiões e relocalizar a sua torradeira industrial, que a mamã não usa, para a cozinha comunitária do nosso bairro. Bem haja.
<BR> sente necessidade de se reintegrar na sociedade, até porque a sua morada está registada em entidades oficiais. No entanto, sente a vontade de fazer a trouxa e ir embora porque, além de sua mulher não se querer relocalizar largando a familí, tem a moça de recados a, segundo ele, roubar-lhe as papas com pedaços de bifana e molho de francesinha.
Duas francesas vi eu há duas horas enquanto apanhava sol naquele banco e fumava o mais barato tabaco de cachimbo do mercado. Sustenho a técnica, ao que parece, pós-modernista de nomear marcas de produtos porque esta marca não precisa do meu patrocínio publicitário para que o seu valor de mercado aumente. A subida do imposto estatal sobre este produto se encarregará sozinho de reduzir o consumo do produto e em espiral, como o marido da Maria recita, reduzir a receita fiscal. Uma recessão em cima da ponte. É preciso dizer que quanto maior for o imposto mais o chinês fumará de espontânea vontade menos. Ele já se vê careca mas com pulmões limpos, ah e claro a Maria há-de sempre ter o seu bife de novilho.
Fazendo contas ao saldo da conta bancária, saio para comprar tabaco para <BR> no café habitual. Mas… e como já vos fiz resenha jornaleira, na animada reunião de sócios topo que um contacto menciona uma marca de verde de um reputado agricultor do burgo. Intão! Antes de satisfazer <BR> faço-me à estrada seguindo-me ao vento a vontade possível de me embriagar. <BR> preparará o jantar com marcação para as oito e meia. Mais minuto menos minuto farei por estar. E assim foi, caminhei pelas obras mas fiz o desvio, apenas explicável pelas obras lógico, e fui desembocar numa feira de discos, o paraíso voila. Desgracei-me! Comprei a um galego o segundo longa-duração dos Mutantes brasileiros.
— Eh pá! Se eu te oferecer a zine do Neu Zeit… tu não me farás um desconto?
— Não posso. Mas aceito a tua oferta e convido-te a escolher um cd destas caixas como troca.
— A sério? Fixe! Destas caixas aqui mesmo?
— Si!
O desvio devido a obras para turista japonês fotografar desviam-me, ou melhor, levam-me pelo caminho grande da desgraça e trazem-me de volta à realidade das obras mas, aqui vem a nuance, munido de um bom gnawa de Nass El Ghiwane em cd de edição árabe. Vou ouvi-lo ao bar das estrelas azuis de oito pontas. Hipnótico alaúde de garrafas e de broa abastecido e com o contacto da ruiva com quem, eu sei que nada acontecerá mas… passarei férias no próximo verão. 
Por sinal, volto a encontrá-la no bar, ela é uma cota de quase sessenta verões, durinha de carne e morena como convém. Falo-lhe agora do que escrevi hoje à tarde: às vezes ralo o tabaco para pagar menos imposto. Ela diz, quase dignamente suspira: porque és tu tão… e interrompe a frase que eu consigo quase adivinhar mas eu insisto que ela termine nem que seja só para jogar a minha vez.
— Porque és tu tão especial?
— Especial é o Mourinho, é o que dizem.
— Sim, é o que dizem.
— Talvez em Paris no próximo ano.
— Talvez em Montmartre, na zona dos pintores.
— Sim, eu mando-lhe mensagem quando chegar. Agora tenho de ir apanhar o metro. Amanhã é dia de bulir. Xau.

O meu refrigerador funciona babe. Eu até te convidava para uma garrafa de verde em minha casa. Mas eu sei que o meu estilo apenas agrada visualmente quando comemos broa ou tarde, às escuras quando o meu sorriso parece iluminar a tua vaidade. Com a luz da manhã veriam-se tantos sucedâneos dos guarda-chuvas do Satie e tanta sujidade e fumo dentro das gavetas que… olha era o mesmo que tu te produzisses muito bem para minha noiva em concurso, nós transássemos toda a noite e de manhã quando te levantasses para ir à geladeira eu te achasse feia. Imagina apenas… não é verdade? Não duraria nem nenhum de nós deseja ser um objecto so-xual de conveniência. De qualquer modo <BR> tem as papas à minha espera e 'tá com vontade de fumar. É pena que partas depois de amanhã. Tanto filho para beijar. Até à cidade das luzes.
— Ficamos a ver o rio, o mar. Lamentamo-nos de a vida não mudar…
— Os portugueses às vezes são estrangeiros. Têm de ir ser profetas lá fora. Agora até nos mandam emigrar… como você amiga O. …
— Sim, e que vão fazer a esta multidão de leitores que vi na queima?
— Bão prás obras!
— Vejo que falamos a mesma linguagem.
Despedimo-nos, beijamo-nos quatro vezes na face e eu venho rua acima a imaginar-me o melhor amante desta ruiva na cidade das luzes. Desvio até o olhar de outra ruiva que beija a sua amante de fato e gravata preta e garrafa de champanhe. Celebram à sua maneira alguma ocasião especial. As mães, um beijo para todas as minhas mães, que eu vá primeiro que elas, essas milfs, mães de ellen bêbada. Uau, meu refrigerador funciona babe. Vejo-te no verão ou no varão. Termino enviando mensagem: amiga O., amanhã vou bulir, no próximo verão, quem sabe, se tiver dinheiro para as férias. Beijo. Enviar.
Digamos assim que por razões de nobre cavalaria, romanesca como diria o mago Gérard ou segundo a moda mais trendy do momento para o tone chinês, após estas cavaleiras de sangue ruivo este conto deve terminar, aqui.
Et voila, há mortos que estão mais vivos que certos vivos que não sabem que estão mortos. No entanto, vários finais e outras tantas explicações neste luso faz-de-conta são possíveis. Por exemplo, convém não endeusar o mistério mas sim desvelar o mistério das iniciais. Não sei se o leitor, tendo resistido a adormecer com o livrinho no nariz ou mesmo tendo resistido a usar zine como papel de tuálete, terá reparado que a última, a verdadeira, a única cavaleira deste conto é a amiga O.?!
Diga lá resiliente leitor, se não se sente como se tivesse levado com a torradeira nas trombas [sic], se não sente o sino da catedral a retinir dentro vossa massa cinzenta e as sinapses a caírem em saco roto, ou como dizem os britiches:
— Does it ring a bell?
— Doesn't it?
— Oh god fuck my mind for ru...d,
ou como dizem os agentes do efbí: copy that roger,
se não sente nada disso é porque, se calhar, não aproveitou a oportunidade de gratuitamente ler os textos (ou o email foi descartado porque numa leitura diagonal a sua informação era irrelevante) onde aparece uma personagem masculina, a man for fuck sake?!, um tal de professor O., e agora aparece uma lady friend O.!
Estará o escrevedor a alucinar a hermenêutica reduzindo géneros Ovais, um O. antes macho, uma O. agora fêmea?
Wtf eheheh mas ainda assim se nenhum lóbi se interessa, também nada é verdadeiramente misterioso, eu nada invento e, apesar do O original nunca ter existido como nome, o nome da amiga O. começa por O.. Ponto.
Eis um facto de que a história se gera em nuances repetidas e transcritas em ficheiros word bb, é possível re-escrever, fazer acontecer o destino. Mesmo que a igreja diga que é proibido desistir e que a história é eterna e não se repete, eu digo que surgirão sempre novos profetas, únicos e prontos a darem a vida na cruz por qualquer pai ou mesmo sustento — «mas eu estou louca, Joaquín, por isso não acredite em mim», escreve Cristina Rivera Garza em «Nadie me verá llorar».
Este mistério de acontecer amanhã o que alguém ontem escreveu, este desespero de haver iludidos e desiludidos, crentes e descrentes, o «estou a supor», o «diz que disse», a tentativa de nos adquirirem, a ciumeira e a inveja resultante, enfim!, tantas maneiras de concluir o conto mas chega para mim dizer apenas que o O. original encontra R., trinta anos mais novo, e lhe conta que desfizera a santa custódia nas trombas da mestra da comunhão.
Menos ou mais passível de ter acontecido mas vinte anos depois, e apesar de por O. sentir ainda algum carinho, digo que lhe teria valido mais ter, de acordo com as perfilhações de Escohotado, adulterado com fungos a farinha da hóstia e talvez… talvez a mestra visse nele o futuro avô de seus netos.
Cogumelo my franga minha guarda-chuva de Bengali, em dias que não chove… podes estar on ou podes estar off mas, como do ponto de vista do chinês, não és suficientemente rápida para poder estar on e off ao mesmo tempo no momento em que o investigador recolhe a evidência fotográfica, convém dizer que é melhor o chinês estar ov e fazer o ninho debaixo da ponte e calmamente apontar a cana e, com setas, caçar uma gaivota com consciência crítica, uma franga que vá além do blowjob trocado pela despesa de domingo à tarde no chópingue e também além da conversa fantástica acerca do Anthony nas dunas de sal.
Velvet Sonic Prunes mámene óme! Agora vou fumar um moks de cabidela. Ámena!
Termina assim a novelização metafórica da paixão confessional do grande empresário pelo careca tone chinês que, com ou sem óculos com ou sem cavagnac, inspira tanto ódio e medo ao poeta, de profissão, Mauricelho da Sogra. Porque desde sempre os há, até ao próximo que ponha algo de pé para parecer grande coisa.
No final, o que conta mesmo é que Mauricelho da Sogra e o chinês podem voltar a fumar um charro juntos e concordar que o Artaud fez bem em dar uma bengalada ao Breton.
[texto escrito seguindo o gozo do acordo ortográfico]
Oub'lá mas essa história da manuelle biezon...
Que história?
Eh é mesmo verdade?
Que história? A história da mulher que tinha bigode e mamas?
Não!, a história daquela que não gostava de foder e não sabia a diferença entre uma puta e uma prostituta… a história das fadas… tu sabes, foi mesmo ela que a escreveu?
É que recebi uma mensagem de um palhaço dizendo-se new wave, não desampara a loja, diz: Imagina um homem que queira mudar de sexo e depois
já mulher escolhe ser lésbica. Ainda pergunta se gostei da mensagem!
Well mister… me and my monika we were ridding back from manitou…
Oub'lá tu pensas que me indrominas?! Tu num m'indrominas óbiste? Eu posso ter um olho fechado mas o outro está aberto, essa frase é dos Tédio Boys, estou meio a dormir mas estou-te a manjar!
Ok então... houve um dia que a manuelle chegou perto do claudio e lhe disse
claudinho vai buscar o minidisk e o microfone não te esqueças da faca da avó,
o claudinho foi e trouxe também a caneta e a broa.
[.!.]
É verdade :)´»!, eu estava lá,
quase que morria com uma úlcera de riso.
Brutal.
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Claudio Mur

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