sexta-feira, 23 de maio de 2014

Mishima's forbidden colours


'Mishima's forbidden colours'
acrílico sobre papel
60cm por 42cm
1998
ZMB




Quando me chegou ao conhecimento o nome de Yukio Mishima
interessou-me o seu suicídio ritual.
Comprei 'O marinheiro que perdeu as graças do mar'
onde se conta o ritual de passagem de menino para rapaz,
um menino com um pai morto na guerra e um padrasto, 
o amante americano da mãe.
Este é morto barbaramente pelas crianças.

Comprei 'O templo dourado'
onde se conta o ritual de passagem de rapaz a homem,
um rapaz estudando para monge e dividido entre
a religião e o despertar sexual.
O seu falhanço sexual com uma rapariga,
a culpa, a possibilidade de sentir aversão pela carne feminina
leva-o a cometer um acto tresloucado
e a incendiar o templo.

Em Cork, comprei o meu terceiro livro,
este em versão inglesa: 'Forbidden colours'
onde se conta uma versão menos metafórica 
do ritual de passagem de jovem a homem.
Yuchi casa-se por interesse com uma jovem
mas ao mesmo tempo em vez de incendiar o mosteiro
vai às escondidas aos locais gays e
encontra um velho que lhe satisfaz a sua verdadeira sexualidade.

Este é um livro abertamente gay.
E esta é também a prática: 
Conheci por intermédio de umas amigas em comum
um gay brasileiro que lhes contou que 
quando ele ia aos bares da especialidade
os homens que encontrava eram todos casados.

Ao voltar da Irlanda  li ainda 'As confissões de uma máscara'
e o ópus de Jean Genet 'O diário de um ladrão'
e comecei a compreender que
o facto de eu próprio ter tido uma infância de pouco afecto,
o facto de eu próprio ter falhado de vez em quando com as mulheres
e algumas coisas mais se parecerem com uma estética decadente
e, neste caso, gay,
eu não tenho de o ser,
não tenho de seguir esta cartilha,
nem tenho de ser ultranacionalista
nem tenho de cometer crimes 
ou viver vidas duplas sobre disfarce.
Eu não sinto atracção física por homens e
só tenho que encontrar uma nova dançarina de salão.

Ao voltar a Portugal, este tinha mudado ou melhor 
tinha ficado na mesma e eu é que me senti um alien, 
sozinho sem ninguém
e claro que fui assediado nas discotecas,
claro que o povo me chamou de bicha na rua
e claro que com tanta porrada psicológica
e mais umas quantas de razões
a minha identidade, a minha mente explodiu.

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