LAY OFF
depois da primeira aula de jaula
pousei a cábula do meu corpo
no cimo morno dum muro
e
de livro aberto no colo
passei a fazer gazeta
já reparaste, camarada,
na vida prolífera dos muros
os muros moldura e os muros ninho
os muros de saltar e os de ruir
os muros lavrados de musgos e líquenes
os muros peçonhentos reptilíneos
e os muros abraçados por espinhos
depois da primeira cantiga
gritada debaixo do chuveiro
marquei com os pés ainda molhados
as voltas que o pensamento pode dar
quando está preso a si mesmo
e nem a quem pode libertá-lo se confia
já reparaste, camarada
nos pequenos dilúvios de que sou capaz
para diluir num só bloco
o pico da montanha e o fundo do vale
com aguarela de limar escarpas
e vassouradas de verde bandeira
até eu mesma ser sem cume e sem sopé
Regina Guimarães
em «caderno das duas irmãs e do que elas sabiam»
página 77
edição Exclamação
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