domingo, 8 de dezembro de 2024

Regar a planta ou ser um planticida? Eis a questão

 Hoje, ao chegar a casa com o pão fresco, encontrei o meu pai na cozinha.

Pai, o patrão é um cómico. Ontem, eram sete menos cinco, ia na rua a chegar ao Tijuana. Vi as persianas corridas, vi a dona Alexandra junto à porta da rua a deixar lá um balde e a entrar, vi as luzes do letreiro já acesas. Cheguei à porta de vidro na rua com a intenção de ligar o interruptor que controla a abertura desta porta. Cheguei e vi o patrão que mal me viu disse: sr. Rogério!, só agora é que chega? Pois chega a tempo de se explicar. Eu fico logo transtornado e tiro no mesmo instante o espertafone do bolso e digo: são sete horas, sr. A. Ele, em tom acusador, diz: vai ter de se explicar de um crime. Mais transtornado fiquei, fiquei a pensar «o que é que se terá passado este tempo em que estive ausente...»

E, pai, o que era? Era a planta, que está ao cimo dos três degraus de mármore junto à porta com a fechadura electrónica. A planta secou! O patrão mostrou-me o balde cheio de terra e cascalho e disse: eu e a dona Alexandra tirámos a planta do vaso, a água já estava choca. Você afogou a planta. Olhei para o vaso e, interiormente, suspirei de alívio, afinal... não morrera ninguém na minha ausência. Disse ao sr. A.: vou levar o balde ao contentor. Ele disse: eu vou consigo e levo estas garrafas. Eu virei-me para ele e disse: sr. A, agora o senhor assustou-me, pensei que tinha acontecido uma desgraça. Disse-o quase a sorrir, pai, disse-o aliviado. Foi assim:

Eu, agora que tenho de fazer apenas metade do serviço que me foi destinado fazer quando fui contratado, fui mandatado em Abril para regar a planta, nem sei o nome dela e eu não sou jardineiro. A planta é um tronco claro de trinta, quarenta centímetros donde no cimo saem umas folhas finas e longas que caem ao longo do tronco e estava dentro de um pequeno vaso com terra dentro de um grande jarrão cheio de cascalho. Mas não se via o vaso com a terra, só se via o cascalho e o tronco. E eu fui regando a planta, a cada três dias ia deitando meia garrafa de água no jarro junto ao tronco. O sr. A. ao longo dos meses ia ajuizando e ia dizendo: está bonita a planta, está viçosa. Mas no último mês, a dona Alexandra reparou que o jarrão estava cheio de água e começou a ver-se que as folhas estavam a secar, disseram-me para deixar de a regar. 

Ontem, durante a tarde e como é habitual, o patrão folga do supermercado e passa o tempo no hotel até eu chegar e ocupa-se de alguns pormenores. Pai, ele é um ano mais novo que tu e é ele que abre as tampas das fossas e se mete lá dentro com uma vara de arame e eu ou a dona Alexandra a deitar água com a mangueira lá para dentro para ele desentupir os esgotos. Pai, o patrão trabalha. Além disso, sempre foi correcto para mim. Por isso, alarmou-me. Foi teatral. Hoje, ao contar-te isto, dá-me vontade de rir. 

E agora, em vez da planta está lá uma artificial.

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