quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Sobre a utopia

No livro ‘História das Utopias’ de Lewis Mumford, escrito em 1922 e publicado pela Antígona em 2007, é dada a definição de utopia como um escape à má realidade vivida num momento presente ou como uma tentativa de criar ou reconstruir um local (geralmente uma cidade ou Estado) onde se pode viver aquilo que se chama de ‘a vida boa’. 
Mumford parte da análise do livro ‘A república’ de Platão, passa por ‘Utopia’ de Thomas More, por Christianopolis de Andrea e A cidade do sol de Campanella, entre outras utopias mais recentes como as utopias de Fourier, Proudhon, Marx e alguns utópicos americanos do século XIX e também H.G.Wells com A máquina do tempo. Mumford analisa as diferentes classes sociais da sociedade utópica, o seu modo de vida, de trabalho e lazer. Esclarece que elas tentam criar uma ordem social nova, com pessoas inseridas numa comunidade ideal -- em que todos trabalham para o bem comum, tem direitos e regalias e lazeres comuns. Descreve como as utopias clássicas levaram à criação de dois conceitos como A casa senhorial (ou seja, a classe dirigente que manda e seu domicílio), Coketown (ou seja, a classe que trabalha e a cidade que os acolhe) e O Estado (sociedade império ultra-nacionalista que deve administrar o território). 
Mumford faz a crítica que cada utopia foi imaginada, idealizada e escrita por um único homem, que foram utilizadas posteriormente ao longo dos tempos por grupos de pessoas que as tentaram aplicar, mas que na realidade não se conseguiram realizar por não terem em conta muitos factores: um deles é o ego de quem escreve a utopia (este tenta impor a sua ideia aos demais sem pensar que é exequível eles a aceitarem ou pensarem do mesmo modo), outro factor é o atrito entre pessoas humanas que podem não se dar bem uns com os outros e portanto dinamitar a sociedade comum, a burocracia de todos viverem regulados pelas leis da sociedade utópica, e também o papel dado a quem não adere ao ideal comum. 
Assim, por exemplo, em Thomas More há escravatura, em H.G.Wells há os seres brutos que trabalham no subsolo para proporcionar a vida boa dos ‘seres escolhidos’, em Platão não há artistas. 

Ou seja, eu pergunto-me o que acontece a quem não encaixa nos preceitos da sociedade utópica, quem não tem o trabalho comum ou o lazer comum, quem pensa que pode ter interesses ou gostos ou pensares diferentes do bem comum? As utopias nada falam destes tipo de pessoas mas assumo que não têm lugar na sociedade utópica, estão condenados à prisão ou a ser escravos. 

No mundo real, sabendo que muito foi aproveitado de todas estas utopias para a sociedade em que vivemos, sabemos todos que quem não está encaixado em alguma nomenclatura ou classe de interesses ou associação é considerado um fora-da-lei. Uma pessoa assim por fugir à regra, à norma é considerada perigosa para a sociedade, alguém com quem deve ser dificultada a comunicação e votada se possível à indiferença e solidão. 

Para quando uma utopia em que o artista não precise de ser um recluso para poder criar e viver o melhor possível entre os seus concidadãos com o pleno direito ao respeito pelas diferenças entre cada ser humano? 



4 comentários:

  1. Um artista?

    Caro ZMB, antes de mais, somos todas pessoas, cada uma com as suas idiossincrasias.

    Tu, piraste-te da hospedaria de uma forma totalmente estranha, lá tua, aceitável, contudo, eu não sou uma ditadora:

    perfeito, a teu modo, agora, vires aqui - mesmo que seja o teu espaço individual - reclamar estatuto (de artista, de seja o que for)?

    artistas, meu caro, somos todos (ainda hoje observava os carpinteiros lá no desemprego dos dias, o esmero no trabalho: artistas!!!).

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    1. E que tal leres o livro para o comentares?

      Se achas que reivindico estatuto é porque achas que não o tenho e portanto, para ti, talvez não tenha lugar na sociedde. Isso diz-me que és uma pessoa que eu não quero conhecer na minha vida real.

      Quanto à hospedaria, recuso ser «menino de mão» e ficar sujeito à aprovação da hospedeira que pensa que todos os posts têm de lhe ser dedicados e de acordo com as suas ideias.

      Passa bem.

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  2. ok, artista, passa bem, que de pessoas - algumas, eu? - não percebes NADA!

    enquanto eu rio esfiapadamente da minha desgraça (várias, de facto), para aligeirar os dias, tu ainda me insultas, e isto após um convite generoso para integrar um colectivo de pessoas. Artistas, cada um à sua maneira, vê lá tu!

    vai, artista, ou antes, fica, quem vai sou eu, que este é o Teu Atelier...
    uma vez mais, sê muito feliz, isto escrito sem quaisquer ironias.

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  3. Os leitores, que possam chegar a esta minha publicação, vindos do blogue Imprecisões através de
    http://mas-o-texto.blogspot.com/2018/10/carta-aberta-ao-zmb.html
    podem, caso estejam interessados, ler o meu direito de resposta aqui:
    http://zmb-mur.blogspot.com/2018/10/direito-de-resposta-uma-leitora.html

    obrigado pela leitura

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