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O Grego tinha um devaneio na Rua do Vento, que visitava ao domingo a pretexto de ir desmoer o almoço com Benito. A amiga chamava-se Maria do Céu. O marido andava na pesca do bacalhau. Na sala de estar, onde Benito esperava pelo Grego enquanto ele amava ruidosamente, havia um dente de baleia esculpido em forma de companha, com o arpoador à frente, e um quadro todo feito de espinhas de peixe lembrando vagas encrespadas e os salpicos da espuma.
Uma vez que o Grego não teve ânimo para ir à Rua do Vento, empurrou para lá Benito.
«Vai e come-a tu», disse como se fosse a coisa mais natural.
Benito quis responder que não, mas a visão de Maria do Céu cingida pela bata deu-lhe asas nos pés.
«Tem tento que a namorada não foge», riu-se o Grego. «Antes de sair lava-te bem lavado. E pensa que toda a mulher, por ser mulher, é vaidosa. Leva-lhe um xaile dos teus.»
Benito foi ao quarto retirar um cartão com o seu mais caro xaile de merino, que contava guardar para a irmã Xesusa. O Grego estendeu-lhe um vidro de perfume.
«Molha-te, Benitino, para não cheirares ao mulo.»
«Sim senhor», respondeu o rapaz num murmúrio.
Do Céu viu-o chegar sozinho, suado e mais vermelho do que uma romã. Abriu a bata, mostrando os seios pequenos de mulher sem filhos, o umbigo magistral, os cabelos do sexo com um caracol de cada lado.
Quando a noite caiu, ela deu-lhe a escolher o que mais gostasse na sala. Benito disse que era o dente de baleia.
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página 66
Fernando Assis Pacheco em Trabalhos e Paixões de Benito Prada,
Edição Colecção 40 anos RTP
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