-- Vá lá Ru, come, deixa isso, não queiras criar problemas. Diz o meu pai em tom moderado e o mais próximo de uma tentativa de conciliação.
-- Ó pai... nós gostamos tanto um do outro e estamos sempre a zangarnos por causa da política.
-- Pois é, mas agora come.
-- Mas eu queria ensinar-te algo...
-- Não é preciso.
Este diálogo ocorrido há alguns dias à mesa de almoço selou mais um episódio difícil na relação filho/pai.
O meu pai tem tiques autoritários que vem desde pequeno, desde a aldeia onde nasceu. Eu nasci na cidade e sou libertário. Onde o meu pai é conservador e católico, eu sou radical e ateu. O meu pai prefere não ouvir as notícias ou esconder as notícias para que nenhum mal surja dessa informação, eu sou pelo acesso livre a toda a informação para que possamos estar na posse do conhecimento necessário para bem agir. O meu pai é invariavelmente a favor da autoridade, da polícia, dos padres, dos patrões; eu sou a favor do assalariado, do mendigo e do vagabundo. O meu pai é um símbolo de um mundo que parecia morto há muito mas que anda a brotar do cimento tipo erva daninha. Para o meu pai o Outro é mau, para mim o Outro sou eu. O meu pai tem simpatia pelo discurso broeiro do André Ventura e eu digo-lhe que este discurso broeiro é o discurso do café e da cerveja.
-- Pai, como é possível tu gostares desse tipo? Tu, que tens medo de entrar num café, nunca vistes dois adeptos de clube de futebol diferente a discutir num café. Pois eu digo-te «há dias no Golfas um trolha que elogia o mesmo broas que tu, pegou numa cadeira e atirou-a ao gajo com quem estava a beber! Tu que tens medo da confusão, não vês que o discurso desse político é o discurso dos arruaceiros?
-- Vá lá, come!
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