À medida que vamos envelhecendo vamos ganhando amor à vida, quero dizer, se enquanto jovens vivíamos situações perigosas sem o medo de morrer como consequência, quando vamos envelhecendo e sobrevivendo aos diversos perigos, chegamos à conclusão que queremos viver para sempre, quero dizer, fazemos tudo para não morrer, fazemos por «conservar» a vida e ganhamos medo ao perigo e à morte, chegamos a ter medo do outro de quem fugimos na rua.
Isto é comum a quase toda a gente. Por isso, tanto jovem é de esquerda e quando chega a velho vira à direita, torna-se conservador. Há muitos exemplos, não vale a pena enunciá-los ou denunciá-los.
Um velho procede assim no seu pensamento porque invoca a sua experiência pessoal, as dificuldades porque passou, os pontapés que a vida lhe deu, os perigos que não tiveram compensação feliz e causadora de boas memórias para eventualmente transmitir aos seus descendentes.
Mas o que um velho se esquece é que também já foi jovem e, talvez, parvo como designa os jovens de hoje. Também ele não tinha medo de morrer, nem queria saber se morria no dia seguinte, queria viver o perigo, queria conhecer o mundo, queria ver para lá da cortina. E o jovem não quer que venha um velho dizer-lhe «não podes, é proibido!»
Antigamente, já os pais tinham medo quando um filho se metia à rua na bicicleta, mas o jovem queria viver a aventura, sentir o vento na pele, conhecer mundo.
Hoje, os jovens vivem a aventura numa simulação em forma de jogo de telemóvel.
Antigamente, os avôs faziam fisgas de madeira aos netos para eles brincarem aos polícias e ladrões. Hoje, as famílias dão um smartfone aos filhos e estes simulam abater um terrorista enquanto estão sentados num sofá.
Com a lei do tabaco é a mesma coisa.
Todas as razões que levam um jovem a fumar são parvas e irresponsáveis para um adulto, mas é a errar que se aprende, nenhum jovem quer viver seguindo ordens, quer aprender a viver, a ser feliz.
Podemos perguntar se não foi a Eva que quis conhecer a maçã e se daí nasceu a culpa e o castigo que nos imputam. Mas todas as Evas e Adãos têm direito a viver e a não serem simplesmente joguetes de alguém superior.
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