sábado, 22 de junho de 2024

A cliente esparramou tudo na mensagem, ficaram mal

Depois de ambos concordarmos que por estes dias na televisão a qualquer hora só dá Ronaldo e mais dez, o meu pai muda de canal e põe nos bonecos do Canal 2.  Almoçamos. Eu corto um pouco do bife e digo:

 -- Pai, eu não sou contra a mãe das gémeas. Mãe é mãe. Nenhuma mãe, nenhum pai deseja ver morrer um filho, uma mãe faz tudo pela vida dos filhos, ou não é assim? Não estou contra a mãe, a mãe fez o que podia para salvar as filhas. Eu estou contra a cunha, contra o facto de ela ter passado à frente de outras famílias que não tinham o mesmo poder de influência, é justo uma mãe salvar um filho mas pode ter havido outros filhos que entretanto morreram porque não tiveram acesso ao medicamento porque, lá está, não tinham cunha.

-- Isto é tudo para lixar o Marcelo.

-- Imagina, pai, o seguinte, imagina que... eu não porque estou fora do mercado de trabalho, mas imagina o meu sobrinho, o teu neto. Ele tem quantos? 15? Pois imagina-o aos 25. Não sei bem o que ele quer seguir, ele às vezes fala de robótica... Portanto, imagina que ele aos 25 anos está a concorrer a um anúncio publicado por qualquer organismo empresa sei lá. Imagina que ele fez a licenciatura, fez o mestrado, até já tem alguma experiência e uma boa nota aos 25 anos. Imagina que ele concorre ao anúncio e com ele mais duzentos e só há uma vaga. Agora imagina que ele não é escolhido porque o outro candidato filho do senhor fulano de tal, amigo de alguém, entra em vez do teu neto mesmo tendo piores qualificações? O que é que isto diz do mundo? Diz o que toda a gente pensa: Estudar para quê? O filho do patrão fica com o lugar!

-- O filho do patrão tem direito ao lugar, a empresa é dele!

-- É dele? Alto aí, não é bem assim, e se o filho do patrão arruinar a empresa, fali-la, acumular dívidas, desgraçar os empregados? A empresa é dele mas nenhum pai quer ver a sua empresa falida, o que muitos pais fazem é vender o negócio e deixar de herança o dinheiro.

-- Olha o Belmiro, deixou a empresa aos filhos.

-- Sim, mas os filhos são gestores qualificados, não andam por assim dizer, na droga! Dou-te outro exemplo, o nosso vizinho trabalha num hotel e contou-me há dias: trabalha lá até o patrão bater a bota porque se sente lá bem, mas quando for a filha a tomar conta do hotel ele despede-se logo.

-- Porquê?

-- Porque ela não sabe gerir, não saberia abastecer a casa dos produtos necessários, papel higiénico etc, queijo fiambre café para o pequeno almoço, não saberia pagar salários, etc ainda há dias uma cliente deu avaliação negativa, um em dez, e foi culpa dela, da sua arrogância, a cliente esparramou tudo na mensagem, ficaram mal.



Sem comentários:

Enviar um comentário