Pai, quando me ligaste eu estava no sr. António a carregar o telemóvel. Depois, vim a casa buscar dinheiro e saí para ir ao lidl. Quando passei a ponte do brás-oleiro e virei para o lidl... naquela rua a descer antes de virar à esquerda para o lidl... vinha uma senhora que devia vir do lidl e que se vem aproximando, e quando está a passar por mim... olha, podia ser a mãe, eu estava a olhar para ela, ela dá um passo e cambaleia, e eu penso olha, está a cair, e enquanto estou a pensar em ir ajudá-la, foi tudo instantâneo, ela dá outro passo e cai ao meu lado. A senhora está bem? Deixe-me ajudá-la, deixe-me levantá-la. Oh, ajudem-me!, o senhor não pode comigo, ajudem-me! Ninguém vem ajudar! E pai, estás a ver a mãe quando cai e parece um peso morto, assim a senhora estava, eu tentei agarrá-la por baixo dos braços e erguê-la mas pesava uma tonelada. Aí, ela disse Eu tenho uma prótese na perna, ajudem-me, o senhor não pode comigo. Nestes cinco segundos veio em nosso auxílio um rapaz que parecia sem-abrigo e que estava no granjeiro à beira da ponte e ajudou-me a levantá-la, eu sozinho não conseguiria. Pusémo-la de pé e um joelho estava a sangrar e cheio de areia, ela disse Obrigada, mas preciso de pôr água. Mas aqui não há água, e começámos a caminhar com ela, eu de um lado e o senhor sem-abrigo do outro até ao cimo da rua, até à ponte. Eu pensei A senhora precisa de ir fazer um curativo, ou pelo menos ir a um café à casa-de-banho limpar o joelho, mas aqui não há e eu não tenho tempo, tenho a minha própria mãe que vai ter alta hoje daqui a pouco do hospital. E então deixámo-la junto à ponte e eu disse-lhe Senhora, segure-se ao corrimão e voltei para trás para ir ao lidl comprar os bifes de frango como tu tinhas pedido para eu comprar porque era para a dieta da mãe, eu não podia ficar para ajudar a senhora. Então, fui ao lidl, cumprimentei um sem-abrigo que costuma estar à porta a pedir e entrei para comprar os bifes embalados, pensei em comprar uma garrafa de água para dar à senhora se ela estivesse sentada na paragem junto à ponte, mas acabei por não comprar porque não sei se ela lá estaria. Paguei e separei oitenta cêntimos para dar ao sem-abrigo que estava à porta, mas quando saí ele já lá não estava, caminhei no sentido da ponte e virei para casa, vi um autocarro a arrancar e vi a senhora que tinha caído sentada na paragem com sinais de aflição, dois velhotes falavam com ela, espero que eles a tenham ajudado, eu senti que deveria ter feito mais por ela, mas eu tinha que cuidar da minha própria mãe, não somos computadores nem capital humano em time-sharing dando a ilusão de sermos totalmente dedicados, não conseguimos ajudar duas pessoas ao mesmo tempo, e eu não pude ajudar mais a senhora porque tinha a minha mãe para ajudar...
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