domingo, 9 de abril de 2017

Uma figura: hedonista à baliza


'Uma figura: hedonista à baliza'
óleo sobre tela
45cm por 35cm
2000

ZMB

Reponho hoje este quadro porque em Março estive a repintar o preto.
Como não fiz alterações significativas não actualizo a data do quadro.
Apenas o título que nos diz ser um portal para este texto:



(fotografia de época)

A vida pode ser um absurdo mas hoje já não me sinto muito desgraçado.
Tenho feito ao longo destes anos um esforço de me compreender
e de me enquadrar na sociedade.
As circunstâncias da minha vida mudaram para melhor:
reformei-me e tornei-me pintor a tempo inteiro.
Sei que não agrado a todos e muitos ainda me olham com desconfiança pelos actos do meu passado.
As desculpas não se pedem, evitam-se.
Quando são aceites e se forem sinceras, isso às vezes faz com que o Outro a quem se pede desculpa abuse da nossa humildade.
Aprendi a lidar com a falsidade.
Mas também sei reconhecer quem me tem dado a mão.
Se a saúde não me trair terei mais quarenta anos de pintura pela frente:
The sky is the limit!

[adenda: texto publicado aqui em Maio de 2014]

No ano de 2000 fui hospitalizado duas vezes.
O diagnóstico foi o de esquizofrenia paranóide.
Deleuze diz que Freud nunca gostou de esquizofrénicos.
Ao mesmo tempo, no Anti-Édipo, Deleuze diz
e não sei se será uma anedota, diz que nunca viu um esquizofrénico.
A tentativa de explicar uma psicose reduz-se quase sempre
a neuroticizá-la ou a torná-la perversa.
Dizem que um esquizofrénico não tem cura
e eu digo que um esquizofrénico é um prisioneiro da liberdade.
Sou mais livre que todos vós.
Este 'vós' é o sujeito chamado rebanho,
aquele que se submete à autoridade e que deseja depois ser autoridade.
Neste mundo, todos querem mandar e ser patrões e ter escravos,
alguém, 
tantos que se corrompem a trabalhar para eles
em troca da moeda, da palmadinha nas costas.
Sou mais livre que todos vós
mesmo que seja actualmente pobre no sentido económico
e sinta a vida como um absurdo.

4 comentários:

  1. Deixei um longo comentário que, creio, se evaporou com a falta de wi-fi.
    Basicamente, esforço temos todos, mas vida também. Se a medicação for necessária, tome-se, entre todos.

    Um dia falarei disto mais em pormenor, aqui.

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  2. Escreve, diz de tua justiça, aqui estarei para dialogar contigo, eu não censuro comentários, volta sempre que quiseres

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  3. sobre isto o que penso é um pouco o que consta do ditado "que de génio e de louco todos temos um pouco" e tenho tantos familiares e amigos com depressões (também já estive perto) e dois passaram por fobias, por isso não sei nada de nada (e não me sinto lá muito livre mesmo)

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  4. Obrigado Gabi, já dizia o Sócrates que só sabia que nada sabia.
    Eu sou livre apenas porque me basto a mim próprio e tenho a ajuda pontual da família e de alguns, poucos, amigos. além disso, não tenho um patrão, logo não preciso de vergar perante a autoridade, sou também livre porque aprendi a lidar com os meus excessos, deixei de ser da lua para ser do sol, vivo o dia pacatamente sem fazer mal a uma mosca e sem sentir que o mundo me está a agredir, como pensava durantes o meu período negro.

    Volta sempre,
    cumprimentos,
    Rui

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