segunda-feira, 3 de abril de 2017

It's Just A Burning Memory

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O dia acordou às oito e meia. O sol voltou. O fim-de-semana nas flores correu bem: foi produtivo, a interacção com as gentes foi agradável. O Marco aprovou o quadro, vai-mo pagar às prestações, à medida que vai ganhando os seus trocos a tocar o realejo, ontem levou um galo branco, tipicamente francês, para fazer companhia ao papagaio e ao canário e também para soar surreal ao som da melodia da amélie que sai do realejo, as pessoas que passam riem-se agradadas com o cantar de galo, deixam moeda e dizem que se fazia um bom churrasco. Mas isto foi ontem, Hoje acordo com o sol e cheio de moral, saio de casa, entro no metro e quase que saio nos Aliados, mas lembro-me que tenho de comprar tabaco e mortalhas, saio em São Bento, caminho e gasto oito euros e sessenta, terei tabaco para cinco dias. subo e dá-me vontade de mijar, entro na pastelaria e aproveito e tomo café, continuo a subir e entro numa loja de pintura, enquanto escolho os tubos certos de óleo, recebo o telefonema dela, está feliz, combinamos encontrarnos mais tarde, compro também um caderno A4 para iniciar a nova série de desenhos em Derza, pago e volto para casa de autocarro porque tenho de passar no minipreço, preciso de manteiga de girassol, guardanapos, compro um pacote de bolachas de água e sal, lembro-me que tenho de ir pagar a conta da água, estou com medo da conta da luz, os cabrões se eu não reclamasse queriam roubar-me na última factura, esqueci-me de comprar sabão, chego a casa, pouso o saco das compras e saio de novo para ir pagar a água por multibanco, vou pelo caminho fora e levo a mão ao casaco, reparo na carteira de mortalhas, mas não consigo apalpar o maço de trinta gramas de tabaco, devo tê-lo deixado em casa, tenho de comprar pão, pelo sim pelo não vou comprar um litro de cerveja enquanto o multibanco está a ser utilizado, pago finalmente, regresso a casa, procuro o tabaco, não o encontro, procuro novamente, continuo a não encontrar: «FODA-SE! Perdí o tabaco, tinha tabaco até Domingo, que palhaçada, andas tu a dourar ao sol de Abril para ganhares uns trocos e te sentires contente por o teu tabalho começar a ter aceitação e perdes-me o tabaco, ganda nabo!, pareces rico.»

«E não é que perdi o tabaco mesmo...»
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Claudio Mur


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