quinta-feira, 30 de junho de 2016

Ai a Billie!, parte 2

A única verdade é só uma:
«Ela tem um home maluco por ela»,

ela canta uma mistura de versos de duas músicas:
'She's funny that way' 
e
'He's funny that way'

I'm not much to look at, nothing to see
Just glad I'm livin' and lucky to be



domingo, 26 de junho de 2016

Lisa Cabellut: como uma criança da rua se tornou uma artista de renome




retrato de
Frida Kahlo
por
Lisa Cabellut

Tuxedomoon - The Ghost Sonata

O filme musical mais belo que alguma vez alguém fez.



Tuxedomoon - The Ghost Sonata

Music, sound and dialogue based
 on the 1982 stage and video production by Winston Tong & Bruce Geduldig. 
Assembled from original materials with additional recordings by Tuxedomoon. 

sábado, 25 de junho de 2016

ZMB - The companion of lady wind


THE COMPANION OF LADY WIND from zmb_mur on Vimeo.

"The companion of lady wind"
2013
ZMB

Dezoito meses depois da realização deste filme musical, alinhavei
em retrospectiva as seguintes paroles:
'
Agora uma refinada jarra de flores antes uma vulgar cabeça de cavalo,
o companheiro da senhora Vento diz:
- Larguei o vudu, esqueci a boneca. O milho continua a oferecer pombas às pessoas.
Logo o superego aparece para troçar desta construção disléxica de palavras e lhe diz:
- É ela, não és tu que te cansaste de esperar, ela é que não quer ter mais contacto contigo.
O filme é muito fora mas o confiante Id aguenta-se, tem alma de gato e não morre nunca o desejo, está já tarimbado e cala o chato. Deixa-o sem qualquer argumento que possa escrever ao lhe replicar:
- As pessoas esperam pelo dia de S. Nunca-à-tarde. Ela nunca virá mas sempre tivemos paris. Nem só de espinhos vive o mar. Em paralelo com o pedaço de coração confiscado numa cabana (em memória rom), novas marés hão-de-vir como mel para o coco. A minha cuca não recusa água alguma, torna-a aliás potável e ela sabe, é por isso que ela não vem, sabe que o seu riso poderia dizer: It's the story of my life.
'
Claudio Mur [2014]

Entretanto novas marés vieram

'
e se tu me perguntaste se eu já tinha conseguido trazer a senhora Vento de volta
eu respondi que já não me lembrava da senhora Vento
e afinal nem só a Vento foi boa para mim
o que poderá querer dizer que não sou homem de uma só mulher
ou, dito de outra forma, várias mulheres me tocaram,
tu tocaste-me este São João, nunca tive São João tão etéreo
disse-te que todas as mulheres são diferentes e que é preciso encontrar o seu coração
disse-te que todos os homens são diferentes e que eu sou como uma flor que tem o seu tempo para ser colhida
(a senhora Vento dizia que eu era a flor do seu cacto no deserto)
disseste que o teu coração tem vários compartimentos e assim o meu também
estás a partir de hoje, no momento em que agora escrevo, num quarto só teu dentro do meu coração,
a tua xícara de café está guardada na caixa de ferramentas para que só tu a uses
se um dia voltares
com as tuas circunstâncias resolvidas,
eu não posso competir com ele
mas fiquei contente por te fazer feliz e por ter felicidade contigo,
por teres dito que tenho como qualidades a gentileza e o amor,
hoje estou cheio de preguiça, não me apetece fazer nada,
é o estado em que me deixas,
a minha cara de pidão, a minha voz langorosa de dragão, o trato com que me deixaste
Ouvímos os fados da Cidália Moreira mas podíamos ter ouvido a capoeira da tua bisavó.
Seria igualmente bom, é pena eu ter vendido o cd por precisar de dinheiro
e a procura no tubo não encontra resultados. 
Vai e volta querida
e quando vieres toca à minha campainha.
'
Assinado: eu

quinta-feira, 23 de junho de 2016

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Eu comprei esta estalagem, casei-me; agora tenho filhos;
ele queimou o dinheiro no fogão!

'
-- Que se passou? -- perguntou timidamente Moiseïtch ao Padre Cristóvão.
-- Ele perde a cabeça -- respondeu Kuzmitchoff. -- É grosseiro e faz de si alto juízo.
-- Bem sei! -- disse Moisés aterrado e abrindo os braços. -- Oh! Meu Deus! Meu Deus! -- murmurou. -- Tenham a bondade de lhe perdoar e não fiquem zangados! É um homem tão extravagante, tão extravagante!... Oh! Meu Deus! Meu Deus!... É meu irmão, mas só tristezas me tem dado. Ele é um... sabem...
Moisés Moiseïtch tocou com o dedo na testa e continuou:
-- Não tem o juízo todo! -- exclamou. -- É um homem perdido. Que hei-de fazer dele, não sei! Não gosta de ninguém, não respeita ninguém, não teme ninguém... Troça de toda a gente, diz tolices, fala familiarmente com toda a gente. Varlamoff veio aqui uma vez e Salomão disse-lhe uma coisa de tal ordem que ele lhe deu uma chicotada e outra a mim! A mim, porquê? Seria culpa minha? Deus tirou-lhe a razão: é a vontade de Deus! Seria por minha causa?
Passaram dez minutos e Moisés Moiseïtch continuava a murmurar e a suspirar:
-- Não dorme de noite; não faz outra coisa senão pensar, pensar, pensar. Mas em que pensará? Sabe-o Deus. Se alguém se aproxima dele ri-se e zanga-se. Também não gosta de mim... E não quer ter nada! Nosso pai, quando morreu, deixou a cada um de nós seis mil rublos. Eu comprei esta estalagem, casei-me; agora tenho filhos; ele queimou o dinheiro no fogão! Faz tanta pena, tanta pena! Porque queimou o dinheiro? Se o não queria que mo desse. Mas para que o queimou?
'

página 53
'A estepe'
Anton Tchékhov
Tradução Cordeiro de Brito
Edição Colecção Autores Premiados pelo Tempo, jornal Público e Levoir

Um sofá numa sala, uma televisão por cabo num quarto e um cubículo claustrofóbico




aguarelas a partir de desenho impresso
2016
ZMB

domingo, 19 de junho de 2016

'A cold cell' by Coil



Esta versão da música dos Coil 'A cold cell' está no álbum 'Ape of Naples'
O vídeo é feito por uma fã chamada Mrs. Misanthropy,
o seu canal no youtube é excelente
não só por eu gostar dos grupos musicais que ela enquadra em vídeo
mas também porque os vídeos transmitem uma ideia de
transição imprecisa entre realidades ou mundos objectivos ou interiores,
videos fantasmáticos.

A letra da música:

O Lord, save my sinful soul 
From local punishment 
From the far-away zone 
From being frisked 
From the tall fence 
From the severe prosecutor 
From the Devil or from the devil owner 
From small rations 
From dirty water 
From steel handcuffs 
From hidden obligations 
A cold cell 
And short haircuts 
Save us from the death penalty 
Amen 
Amen 
Amen

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Interrompendo a circulação dos carros para procurar beatas no bueiro das águas residuais

'
As formalidades de requerimento pelo senhor Mancha do rendimento social de inserção revelaram-se um quebra-cabeças. Tinha entregue os papéis no balcão da segurança social na loja do cidadão em finais de Junho, um mês antes de lhe acabar o subsídio social de desemprego. Na altura, pensou que assim seria mais rápido e em Agosto, o mais tardar em Setembro, já estaria a receber a nova prestação. Mas, depois em meados de Julho, saiu dos seus alojamentos na torre de controlo rádio da rua do visconde e ficou sem saber ao certo para onde lhe enviariam as convocatórias. É claro, mudou logo o registo de morada no arquivo de identificação e para isso pagou três euros mais a viagem de metro. 
Era o pino do Verão, o calor tórrido, suava por todos os poros e, por isso, nesse dia decidiu ir de metro porque o arquivo de identificação ficava perto, a cerca de mais dez minutos de caminho, da associação de caridade aonde, na altura, ainda estava a ir buscar, todos os dias a pé, as refeições em taparuéres. Juntou ao agradável, à saciação da fome, o útil, o desfazer-se da sua colecção de moedas de um a cinco cêntimos com coroas de toda a zona euro pela qual a polaca, que fabrica colares a partir de moedas, poderia ter interesse mas que à funcionária do arquivo não agradou muito. Quando viu o monte de moedas pretas e teve de contar à mão os três euros, soltou um «ai vocês!». E o senhor Mancha sentiu-se um moço. O Mancha olhou para a funcionária, não era feia, tinha cabelo escuro, trazia um vestido comprido com alças que lhe realçava saborosamente as curvas do corpo, esse «ai vocês» soou ao Mancha como se fosse uma prima a falar com o irmão bandido, ainda assim pensou que se estivesse bem na vida, talvez a convidasse para uma bebida e, então, lhe contaria a história da sua vida… mas limitou-se a resmungar e vir embora já com o saco da comida e descer o monte a pé pensando no verdadeiramente importante: «Espero que me mandem a convocatória para a casa da dona Zelda…»
Mas não havia meios de a carta chegar. No início de Setembro e a contragosto teve de voltar a subir o monte. O antigo senhorio ligara-lhe a dizer que chegara uma carta. Era 'a' carta. Mas esta só dizia que faltavam documentos e que tinha dez dias úteis para os apresentar com risco de perder o acesso ao rsi caso não os apresentasse. O moço Mancha teve que ir a duas juntas de freguesia para lhe passarem o atestado de residência e provar que estava a viver em Portugal há mais de um ano. Mancha filosofou com meia dose de pragmatismo e outra meia de preocupação: «Ainda bem que sou português e que não emigrei como o pm sugeriu… ainda bem que a segunda junta de freguesia ligou para uma terceira anterior a confirmar que aí morei e produziu um documento onde eu tive de jurar pela minha honra que não saíra do país… imagina os sem-abrigo, como poderão eles receber o rsi?» 
Entregou finalmente todos os papéis em falta e ficou à espera. Passou a cena da bofetada, passou a consulta no hospital e, mais ou menos um mês depois da entrega dos documentos, quase nos finais de Outubro veio a convocatória. Na terça-feira seguinte, haveria de ir falar finalmente com a técnica de reinserção.

-- Vejo aqui que ainda tem família, os pais e uma irmã solteira. Porque vive então num quarto?
-- A verdade é que não me dou muito bem com os meus pais, mas também é verdade que vivi sempre com eles e só há pouco mais de dois anos é que saí para viver em Vallis com uma senhora. Mas as coisas não correram bem e saí de lá. Como na altura tinha emprego achei que podia muito bem ter a minha residência e não voltar para casa dos meus pais. Como só ganhava o salário mínimo, arranjei apenas um quarto em Derza mas voltando a registar a minha residência em Tintus Rius. Compreenda… era mais seguro em termos de receber correio, em casas partilhadas e sempre a mudar de lado para lado…
-- Sim, compreendo. E o que aconteceu nesse trabalho?
-- Eu estive lá dois anos. No final do último contrato eles não renovaram. Se o fizessem, isso significaria eu ficar efectivo. Eu acho que era bom trabalhador mas eles não me quiseram, ficaram-me a dever dinheiro e tudo, depois sou esquizofrénico e torna tudo mais difícil…
-- Como assim?
-- Bem, não é fácil de explicar. Ao princípio, pensam que sou alemão…
-- Alemão?!
-- Sim, é uma maneira de falar, pensam que lhes vou dar dinheiro a ganhar, que vou dar ideias e empreender… mas depois começam a ver que não, a isso junta-se a minha dificuldade de comunicação, a princípio é tudo sorrisos mas depois, porque eu não comunico bem, começam a falar carrancudos como se eu não compreendesse ou não servisse, como se os tivesse enganado, aí começam as minhas dores de estômago, eu alimento-me mal, a pressão de não corresponder profissionalmente ao que me exigem provoca-me o que um médico de família disse serem úlceras nervosas, nem queria passar o p1 para eu ir fazer a endoscopia…
-- E agora, onde come as suas refeições?
-- Primeiro ia à associação de caridade na rua do Antero mas agora almoço de graça na ordem dos franciscanos e vou, todos os dias por volta da uma da tarde a uma associação na rua das cordas, buscar o jantar para a noite. Pago um euro por refeição.
-- E não vê os seus pais? Eles não o ajudam?
-- A última vez que estive com a minha mãe ela deu-me cinco euros! -- disse Mancha, sabendo que estava a mentir, porque infelizmente sabia: os candidatos a RSI não podem ter ajudas monetárias.
-- Cinco euros não é problema. Era problema se fosse, por exemplo, cinquenta euros…
Aqui, Mancha indigna-se: -- Mas como é possível viver só com o dinheiro do rsi?! Às vezes, nem para o quarto chega, não quero chegar ao ponto de apanhar beatas do chão, como imagina que teria vivido estes meses se não tivesse conta bancária…
-- Tem conta bancária? Não apresentou o…
Mancha sentiu-se mal, começou a recordar-se do espectáculo que vira um destes dias à porta dos franciscanos: um pobre, barbudo há quatro meses e a cheirar mal, a deitar-se na rua interrompendo a circulação dos carros para procurar beatas no bueiro das águas residuais. Acabou por dizer: -- Eu almoço dentro de meia-hora. Posso estar aqui ao meio-dia com um documento com o meu nib e o meu saldo bancário. Eu tenho internet em casa da dona Zelda, posso aceder online ao meu banco e imprimir o registo de movimentos…
-- Sim, faça isso, vá lá almoçar e depois traga-nos o papel, nós só precisamos de fazer uma conta…
Mancha saiu nervoso, apressado, ainda bem que o escritório da técnica, o seu quarto, a cantina da ordem… era tudo perto. «Não me podem impedir de fumar, não me podem impedir de fumar!», era tudo em quanto pensava, era o seu modo de dizer que não o podiam rebaixar à condição de miserável, tão miserável afinal como as quarenta pessoas que consigo almoçam todos os dias. Foi a casa, ligou o computador, acedeu ao banco online e gravou o extracto bancário para uma pen, fez um charro com um resto que lhe tinham arranjado há dias, saiu de casa e foi fumá-lo para a porta da caridade. 
Almoçou e ainda não era meio-dia e já estava outra vez no escritório com a técnica. Apresentou tenso a pen com o pdf, ouviu-a dirigir-se a uma colega na sala ao lado, ouviu-as falar «ele só gastou duzentos e cinquenta euros este mês e paga cento e cinquenta de quarto…», viu-a voltar ao seu encontro, ela com um sorriso dizendo: 
-- Senhor Mancha, pela conta que fizemos ao seu saldo devíamos cortar-lhe oito euros ao seu rsi de cento e setenta e oito… -- e continuou a falar como se estivesse quase espantada -- mas não o vamos fazer, vamos ignorar a sua conta e, com os oito euros, o senhor Mancha poderá ir buscar as suas refeições!
-- Obrigado! -- diz o senhor Mancha, desanuviado, voltando a sentir-se capitão. -- E agora, quando começo a receber?
-- Este mês não, conte para o próximo mês. Ainda lhe telefonaremos para ir ver o seu quarto. Venha agora aqui assinar o contrato de reinserção.
'

Claudio Mur

quinta-feira, 16 de junho de 2016

E nós... quando vais aparecer para irmos tomar café e falar de dissolução?


3 propostas para decoração de um pacote de açúcar
Tira de papel com 7cm de altura por 14,5cm de largura

A cor preta foi aplicada com um marcador de preto permanente com uma ponta de .3mm
As outras cores foram aplicadas com uma caneta de aguarela com uma ponta em cada extremidade:
uma ponta em bico para contornos; outra mais grossa para preenchimentos.
É uma caneta de aguarela porque se pode usar como um marcador normal, ou se pode riscar em cima de um acetato e aplicar água com um pincel -- a tinta dissolve-se como aguarela.

O primeiro desenho a contar do lado esquerdo foi realizado a partir de um desenho da professora e onde eu escolhi a cor e transformei o frasco na cara de um palhaço.
O segundo é totalmente meu.
O terceiro foi-me sugerido pela professora que me disse para fazer nova versão 
desta minha proposta anterior:

terça-feira, 14 de junho de 2016

Desconstruindo nos anos 90, ao som de Sei Miguel




https://archive.org/details/AirfAuga

1992 - Airf'Auga recordings were made by some people at their home, in someone else's home, on the streets, in bars, in trains, at night, by day. Most of these people never made conscious sound before. Some of them don’t know that it was recorded. Most of these recordings were made on tape, some on minidisc, and were collected as is. Airf’Auga sound recordings represent several untouched audiograms of real time existence of some people.


segunda-feira, 13 de junho de 2016

... e ali estava Fulano de tal, vivo, numa folha de papel.

'
Todo o bairro conhecia o meu irmão como sendo capaz de desenhar «tudo» -- uma bicicleta, uma árvore, um boneco de desenho animado como Lil'Abner --, embora ultimamente o seu interesse fossem os rostos verdadeiros. Juntavam-se miúdos à sua volta, a observá-lo, sempre que, depois da escola, se instalava em qualquer lado com o seu grande bloco de desenho com lombada em espiral e a sua lapiseira e começava a esboçar as pessoas que se encontravam perto. Inevitavelmente, os mirones desatavam a gritar: «Desenha-o, desenha-a, desenha-me», e Sandy fazia-lhes a vontade, quanto mais não fosse para que parassem de lhe gritar aos ouvidos. Entretanto, a sua mão não parava de trabalhar, ele olhava para cima, para baixo, para cima, para baixo... e ali estava Fulano de tal, vivo, numa folha de papel. Qual é o truque, como é que consegues, perguntavam-lhe todos, como se desenhar -- como se a magia pura -- pudesse ter contribuído de algum modo para o feito. A resposta de Sandy a toda aquela importunação era um encolher de ombros ou um sorriso: o truque para fazer aquilo residia no facto de ele ser o rapaz calmo, sério e simples que era. Chamar a atenção, onde quer que fosse, por fazer os retratos que lhe pediam, aparentemente não produzia qualquer efeito no elemento impessoal existente no cerne da sua força, a modéstia inata que era a sua firmeza e que, mais tarde, ele fintou à sua própria custa.
'

, página 25

'A conspiração contra a América'
Philip Roth
Edição Biblioteca Sábado

--
No meu caso,
não sei se foi modéstia ou desinteresse mas
aos onze, doze anos desenhei em duas folhas de papel cavalinho
as equipas de futebol do fcporto e slbenfica
a partir da caderneta de cromos das equipas de futebol da primeira divisão.
Estes cromos eram caricaturas, penso eu, desenhadas pelo Mário Zambujal.
E eu copiei a lápis de cor alguns jogadores, 
outros, recordo-me, coloquei-os em posições corporais diferentes.
Não sei hoje o quão bem feito foi este meu trabalho porque ofereci os dois trabalhos a colegas da escola, mas posso situar aqui o início de uma habilidade que só, mais tarde,
quando entrei na faculdade para estudar engenharia, se começou a verdadeiramente afirmar.
Contribuiu para isso ter amigos que se interessavam por arte
e que, à maneira deles, também puxaram por mim e me tornaram um autodidacta que se foi afastando
cada vez mais da engenharia e se tornando pintor.



Aguarelas sobre desenho em linha preta impressa a laser
2016
ZMB

sábado, 11 de junho de 2016


As pessoas dizem, nem sempre acertam
from zmb_mur on Vimeo.

Video description from the art exhibition of Rui Lourenço, aka ZMB, at Galeria Inklusa, Porto, Portugal.
From June 10 to August 31, 2016.
Pictured on the video are also dozens of works of art by other students of Espaço T.
In the video,
'Ishmael' by Dollar Brand on the album 'At Montreux' was used as the sound base to the soundtrack processed and altered by ZMB
The title of the exhibition and this video translates to English, more or less as
'People say, but not always correct things'

Corpo do meu corpo, corpo do teu corpo

A mostra que se dá corpo neste catálogo nasce de um projecto galerístico diferenciador e original. A Galeria InKlusa, sediada na cidade do Porto, é um espaço 'de convergência de diferentes tipos de Arte, desde a arte 'marginal' até à arte contemporânea'. A galeria pretende ser um 'catalizador de arte feita por pessoas com deficiência e com potencial artístico'. Um projecto democrático, democratizante e inclusivo que se deve aqui realçar.
A exposição de ZMB pretende contribuir para ultrapassar o confinamento geográfico que, tradicionalmente, delimita a arte bruta, a outsider art, a arte singular e os seus protagonistas.
A exposição individual agora patente na galeria Inklusa do artista ZMB reúne trabalhos executados entre os anos 1996 e 2016. As quinze obras expostas [nota do pintor e blogger: mais uma realizada nos ateliers do EspaçoT], de pequeno e médio formato, dividem-se em treze [catorze] óleos sobre tela, um trabalho em técnica mista, óleo e cera sobre tela, e um desenho a lápis e pastel sobre papel.
Os trabalhos expostos levam-nos numa viagem. Uma viagem sem ponto de partida nem retorno, vamos sim, graciosamente, de mão dada com o artista mergulhar no seu corpo, na sua mente, nas suas tormentas, no universo que o habita.
A arte é uma representação, é uma manifestação exterior da diversidade, a diversidade do homem e da sua relação com a vida. Todos estabelecemo esta relação, todos somos vozes do coro humano, todos somos a expressão da vivência humana, todos a representamos, todos temos uma voz nesta melodia, individual e original, todas as vozes devem ser ouvidas e expressas. A arte é a manifestação por excelência da individualidade da existência, da diferença. Toda a arte é Inklusa. Todo o corpo é um manifesto.
Somos aquilo que representamos, quer nos papéis que ocupamos no nosso quotidiano, em que imprimimos a nossa textura e espessura nas relações que estabelecemos, quer nas representações físicas que executamos, sejam textos, desenhos ou pinturas, ambos os momentos são traços de um mesmo giz, indissociáveis do nosso corpo, o corpo que habitamos, o corpo em que vivemos, o corpo que expomos, são socalcos da mesma ardósia em que escrevemos o pó da nossa existência.
Nesta exposição de ZMB, alter-ego de Rui Lourenço, uma das suas vozes, somos confrontados com o corpo, figurado ou literal, em composições intuitivas habitadas por ausências, o corpo sempre presente, interrogativo, exclamativo, inquisidor e acusador, carrasco e vítima. Em 'People think people say' ZMB mostra-nos um reflexo, o outro lado do espelho de MAI (I AM), uma acusação, um julgamento, o estereótipo vertido em cor, um plano redutor, um mundo estigmatizado em que a arte é uma janela, o pólo libertador e aglutinador, o veio de ligação da viagem.
Noutros trabalhos como em 'A natureza, Diotima e Herberto Hoelderlin' somos remetidos para Diotima de Mantineia filósofa e sacerdotisa grega que está na origem do conceito platónico do amor, Diotima no poema de Hölderlin, Hyperion, diz "Tu queres um mundo. É por isso que tens tudo e não tens nada", a ânsia e a vontade, a realização de um corpo, entre tudo querer e nada ter, todos tocar sem nunca alcançar. Os trabalhos expostos nesta mostra são plenos de originalidade, visões assertivas e audazes do inconsciente, numa linguagem crua e despida das normas que formatam a linguagem artística, são peças directas, no título e na representação, são um bilhete de ida para a mente, para os impulsos, são trabalhos feitos de um jorro, uma arte pura, crua, sem subterfúgios, que se encontra despida de preconceitos, que se expõe lívida na clareza da sua nudez.

Texto de
Hugo Andrade e José António Costa
no catálogo da exposição 'As pessoa dizem, nem sempre acertam'



Galeria Inklusa

O Espaço surgiu, criando o lugar
Cada um criou o seu.
Um ponto, uma recta, um círculo,
Um saco, um desenho, um lugar.
Cada um no seu lugar e todos no seu lugar.
Lugar físico mas também imaginário,
Lugar para afectos, mas também para afirmações e decisões.
Lugar criado onde o Homem se afirma e vive na plenitude possível.
Com um ponto, uma recta, um círculo, um saco, um desenho, um lugar.
Este é o desejo desta luta de vinte anos para que nos próximos cem, os pontos, as rectas, os círculos, os afectos, os desenhos, os lugares e os sacos se unam; para dar lugar a um só lugar onde todos façam parte dele e sejam dele.
Criar um lugar incluso é um começo do fim do caos. O caos que existe nos semáforos, na lógica das cores, na lógica dos conceitos, nas pedras da rua.
Vinte anos passaram e o lugar foi criado só com um ponto.
São precisos milhares de pontos, de sacos, de círculos, de rectas, de afectos, de vidas.
Mas surgem no tempo com o tempo.
Para isso surgimos para lutar por um lugar.

Jorge Oliveira
Presidente do Espaco t

http://www.espacot.pt

, texto incluído no catálogo da exposição 'As pessoas dizem, nem sempre acertam'





quinta-feira, 9 de junho de 2016

«As pessoas dizem, nem sempre acertam», exposição de pintura

É já amanhã,
às 4h da tarde, dia 10 de Junho, na galeria Inklusa


(A exposição montada.)


O convite:

'As pessoas dizem, nem sempre acertam'

Inauguração 10 Junho às 16h00
exposição de pintura de Rui Lourenço

com a curadoria de Hugo Andrade e José António Costa
de 10 Junho a 31 Agosto de 2016
na Galeria Inklusa (Espaço T)

Edifício Escola EB1 da Sé
Rua do Sol, nº14, 2º andar
Porto, Portugal

Evento facebook:


quarta-feira, 1 de junho de 2016

Como se as montanhas tivessem sido desenhadas na página em branco como uma dedicatória em verso.

'
Cá por mim, são cerca das dez horas da manhã. Ele está tão só. Deseja ter uma voz ali perto, mas qual? Uma mão, mas e depois? Um corpo, mas para quê? Completamente perdido entre odores e véus brancos ali está o lago, enquadrado pelas montanhas monstruosas e fantásticas. Como isso fascina e inquieta. Toda a terra até à água é o perfeito jardim, enquanto pontes cheias de flores e terraços repletos de perfumes parecem fervilhar e ficar suspensos no ar cerúleo. Os pássaros cantam com tanta lassidão sob todo aquele sol, toda aquela luz. Estão felizes e ensonados. Kleist apoia a cabeça nos cotovelos, olha e torna a olhar e quer esquecer-se. Eleva-se-lhe a imagem da sua distante pátria nórdica, ele pode ver nitidamente o rosto da mãe, velhas vozes, amaldiçoa tudo -- levantou-se dum salto e desceu a correr para o jardim da casa. Aí sobe para uma barca e rema pelo lago ilimitado e matutino. O beijo do sol é um só, continuamente repetido. Não corre uma brisa. Mal se nota um movimento. As montanhas são como a arte de um cenógrafo competente, ou então é como se toda a região fosse um álbum e as montanhas tivessem sido desenhadas na página em branco por um subtil diletante para a dona do álbum, como recordação, como uma dedicatória em verso. O álbum tem uma capa em verde pálido, que fica bem. As elevações junto à margem do lago são tão iguais no seu verde e tão altas, tão estúpidas, tão vaporosas. La, la, la. Depois de despir deitou-se à água. Como isso é inexprimivelmente belo para ele. Vai nadando a ouvir risos de mulheres vindos da margem. O barco faz movimentos indolentes na água verde-azulada. A natureza é como uma única e grande carícia. Como isso anima e ao mesmo tempo pode doer.
'

página 8-9
'Kleist em Thun'
Robert Walser em «O passeio e outras histórias»
Edição Granito Editores e Livreiros



Um livro comprado num alfarrabista amigo e com direito a desconto 
na companhia de Italo Calvino, Jorge Luis Borges e Bioy Casares

Uma transcrição e postagem dedicada à Cuca e o seu blog de pirata desiludida.

Malabartistas


'Malabartistas'
óleo sobre tela
70cm por 80cm
2016
ZMB

Já os vi brincando em vários locais da cidade.
Às vezes, colocam uma banca de venda de colares e brincos feitos à mão.
Nem sempre colocam a boina no chão à cata da moeda dos que se passeiam turistas.
São parte de um grupo que faz da rua um local de diversão.