'
-- Que se passou? -- perguntou timidamente Moiseïtch ao Padre Cristóvão.
-- Ele perde a cabeça -- respondeu Kuzmitchoff. -- É grosseiro e faz de si alto juízo.
-- Bem sei! -- disse Moisés aterrado e abrindo os braços. -- Oh! Meu Deus! Meu Deus! -- murmurou. -- Tenham a bondade de lhe perdoar e não fiquem zangados! É um homem tão extravagante, tão extravagante!... Oh! Meu Deus! Meu Deus!... É meu irmão, mas só tristezas me tem dado. Ele é um... sabem...
Moisés Moiseïtch tocou com o dedo na testa e continuou:
-- Não tem o juízo todo! -- exclamou. -- É um homem perdido. Que hei-de fazer dele, não sei! Não gosta de ninguém, não respeita ninguém, não teme ninguém... Troça de toda a gente, diz tolices, fala familiarmente com toda a gente. Varlamoff veio aqui uma vez e Salomão disse-lhe uma coisa de tal ordem que ele lhe deu uma chicotada e outra a mim! A mim, porquê? Seria culpa minha? Deus tirou-lhe a razão: é a vontade de Deus! Seria por minha causa?
Passaram dez minutos e Moisés Moiseïtch continuava a murmurar e a suspirar:
-- Não dorme de noite; não faz outra coisa senão pensar, pensar, pensar. Mas em que pensará? Sabe-o Deus. Se alguém se aproxima dele ri-se e zanga-se. Também não gosta de mim... E não quer ter nada! Nosso pai, quando morreu, deixou a cada um de nós seis mil rublos. Eu comprei esta estalagem, casei-me; agora tenho filhos; ele queimou o dinheiro no fogão! Faz tanta pena, tanta pena! Porque queimou o dinheiro? Se o não queria que mo desse. Mas para que o queimou?
'
página 53
'A estepe'
Anton Tchékhov
Tradução Cordeiro de Brito
Edição Colecção Autores Premiados pelo Tempo, jornal Público e Levoir
Sem comentários:
Enviar um comentário