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--...
-- Eu tomo atenção...
-- Ainda agora és bonita!
-- Estás a brincar comigo ou quê?, pá, eu tenho espelho em minha casa, eu me vejo todo o santo dia...
-- Estás temperada, sabes o que é temperada? é... ‘tou a ler... olha, estou a ler o Moby Dick
-- Nem comece!
-- Tou a ler o Moby Dick que é um livro de caça à baleia...
-- Pronto lá tá tu.
-- Uma coisa que hoje em dia já não se deve fazer porque é uma atrocidade e qualquer dia as baleias não existem...
-- Estão a ficar extintas.
-- E pronto, lá no livro eles falam de fabricar um arpão para arpoar a baleia, para matar a baleia e, então, explicam como o arpão é fabricado, na forja, está o ferreiro, está o carpinteiro a fazer o cabo...
-- Ah mas eu não quero saber dessa história não, ela é muito comprida.
-- Eles temperam o aço com sangue.
-- Olha só, não queres que eu acabe a conversa?
-- Prontos, fala.
-- Eu ia dizer uma coisa, o meu oitavo namorado, era o Luciano, é... ele morreu tão triste pá quando eu acabei o namoro, praticamente eu fui a culpada...
-- Oh a sério?
-- É me’mo, ele se matou... numa festa na terra onde eu moro ‘tás a ver, eu fui para a puta da festa, e ele com raiva porque eu acabei o namoro... a gente, eu me chateei com ele, eu acabei o namoro, a gente se desentendeu... e aí eu acabei o namoro, como tinha muitos né?
-- Claro...
-- Eu tinha por onde escolher, se acabasse já tinha outro na agulha...
-- É, é a lei do mercado eheheh.
-- Nunca ficava sem!
-- Um mercado de namorados... ehehehe.
-- Um harém, era tipo um harém...
-- Eheheh...
-- E então portanto... ele nessa noite bebeu todas e mais algumas, foi para a puta da festa, chega na festa, e dá uma de doido pá!
-- Urr!
-- Muito bêbado começou a pensar na nossa situação, juntou...
-- Tomé com bebé...
-- ... tomé com bebé... e disse «eu vou acabar com a puta da festa, não estou feliz, ninguém vai ficar feliz», pois, subiu... atrepou-se no poste... é... comé que vocês chama aqui?
-- Quê?, da luz? É um poste de iluminação, de alta tensão...
-- Mas vocês chama de candeeiro...
-- ... é... um candeiro de iluminação pública...
-- É mas a gente chama de poste... então... ele pegou no fio de alta tensão, tásaver... e...
-- Deu um choque nele próprio...
-- ... e acabou com a festa toda...
-- Pois, o curtocircuito... morreu no poste...
-- Pendurado no fio... acabou com a puta da festa, faltou a energia na hora... e no outro dia... quando eu acordei foodasse levo logo com essa má notícia: «olha sabe quem morreu?, fulano, sabe aquele teu namorado e tu acabou o namoro, ele suicidou-se e tu és a culpada!»
-- Urr...
-- Tásaver... as pessoas me incriminavam... aí eu dizia: «eu não... eu nem sequer conheço!», sou culpada nada, quando uma história acaba acaba, tudo que tem começo tem fim, não é?
-- Sim...
-- As pessoas me apontavam o dedo e diziam que eu era culpada, quando não era... e depois, deixa eu ver... qual foi o último namorado que eu tive, tá no céu o meu nono namorado...
-- ... urr, ele morreu da mesma maneira?
-- Não, morreu de ataque cardíaco.
-- Sei. Não tiveste também um coreano com quem estavas a falar pelo computador... e morreu de ataque cardíaco?
-- Não. Eu tive um namorado coreano mas quem morreu de ataque cardíaco foi o Renato.
-- Ah tábem, então eu confundi, uma vez falaste de um coreano, que queria casar contigo, tu disseste que sim, e ele teve um ataque cardíaco...
-- Foi o Renato.
-- Atão não era o coreano?, fooda-se disseste que sim e ele morreu?!
-- Porque é assim: eu quando conheci o Renato... ele era amigo do meu noivo.
-- Ãh
-- E houve um dia em que num jantar do meu namorado, comemorado em minha casa... e ele trouxe esse amigo dele que era o Renato, apresentou o Renato...
-- Sim.
-- E aí pronto! Se axaiponou por mim e eu comecei a irritar-me com aquilo. Depois eu pensei e decidi ir a casa dele conversar sobre isso, e ele disse que um dia eu ainda ia ser namorada dele.
-- eheheh
-- Bom, namorada eu fui, isso ele não mentiu, eu fui com a cara dele, e um dia, também ele me pediu em noivado, aí eu disse: vou pensar no caso, ainda não estou preparada para casar.
-- Mas quando disseste que estavas finalmente preparada ele... pumba!
-- Ele tinha uma academia, só de homem, onde se fazia musculação. Ele um dia abriu a academia, tomava o pequeno-almoço, fazia o que tinha a fazer, ia para a academia, tásaver?
-- Sim.
-- E... depois que ele abriu a academia, ele sempre me ligava, e a gente em conversa, ele dizia assim: «Então minha resposta?, estou à espera, já pensou?», eu disse: «Ó, pensar eu já pensei, mas não sei se vais gostar da resposta...»,
-- urr...
-- «vá lá eu sou forte!»
-- Ei-iiií!
-- «Eu sou forte, eu vou aguentar.»
-- Fooda-se...
-- E não é isso, ele continuou: «se for um não... eu vou aguentar, a gente vai ficar amigo na mesma, não vai alterar nada», tásaver era esta a nossa conversa, e eu disse «olha, não custa nada dar-te um oportunidade, mas tem calma comigo, porque eu sou assim e assim e assim assado.»
-- Iá.
-- Eh... eu disse: «eu quebro o meu noivado, eu aceito», disse sim na cara podre, e o homem ficou tão animado, tão alegre, tão feliz... olha deu-lhe o peripato, abriu a academia mas ainda não tinha chegado ninguém, e ele estava morto ali dentro da academia sózinho, e quando os alunos começaram a chegar, para falar com ele e ele não responder... estava morto, eh pá, foda-se!
-- Iá...
-- O pai dele não fala comigo, ele diz que eu matei o filho dele, e o irmão dele também não, ele se abria com o irmão, era o confidente... enfrentar a família foi...
-- Mas tu agora estás diferente...
-- Mas eu fui a culpada, não fui?
-- Foste a culpada tu? Não, tu não tens culpa se as pessoas se as pessoas têm ataques cardíacos, pensa assim, ele tinha uma academia de musculação, fazia tanto exercício físico...
-- Ele não fazia, ele estava lá a gerir...
-- Ah pronto ele não era treinador...
-- Não, ele ensinava os alunos...
-- Mas dizer que a culpa é tua?
-- Eu estava lá, eu passei um fim-de-semana lá na casa dos pais, transei com ele, ia na academia, ele me levou lá, fizeram o jantar para os pais dele me conhecer...
-- Tu falas do ataque cardíaco... mas tu até lhe disseste uma coisa boa...
-- Olha ninguém pode ter alegria demais nem tristeza de mais, acaba por morrer.
-- Mas que culpa, tu também foste uma vítima, tu até ias casar com ele, ele estava todo contente, iam ser os dois felizes...
-- Ou eu ia ser muito feliz, ele me amava de uma tal maneira, ele esperou por mim.
-- Lá está, vocês iam ser felizes, ele morreu e tu ficaste infeliz, que culpa tens tu que ele tenha ficado tão feliz e tenha tido um ataque?, não tens culpa! Foi uma desgraça, para a família dele, para ele e para ti, não é?, tu foste vítima dessa desgraça... e se formos a ver... também não tens culpa do primeiro que se suicidou no candeeiro público, não é?, esse quis vingar-se de toda a gente, que culpa tens tu que um gajo se queira vingar?
-- Mas tirando a própria vida?
-- Tábem mas...
-- A vida é bonita mas as pessoas são feias...
-- É, a vida é bonita mas as pessoas não conseguem gerir as rejeições, as pessoas não conseguem aceitar que os outros possam não gostar delas, de nós, de não nos querer para todo o sempre, os amores começam e os amores acabam.
-- Acabam para quem morre... é... e depois o Geraldes quando eu acabei o namoro com ele, ele entrou para a polícia, é... dava para fazer um livro, eu era ruim.
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Claudio Mur e Anónim@ do século 23
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